A HISTÓRIA DO LOBO MAU
Tânia A. Neves Barth
Era uma vez um lobinho que vivia feliz com sua mãe e seus irmãos. Sua vida era muito feliz, ele passava o dia a brincar com os irmãozinhos enquanto sua mãe saía para buscar comida, e quando ela chegava com o almoço, era aquela festa. Um belo dia, sua mãe não voltou. O lobinho e seus irmãos esperaram, esperaram e nada... A noite caiu, os lobinhos ficaram com muito medo e tremendo de frio, até que a coruja veio dar a notícia: Sua mãe fora caçada por um homem mau e estava morta. Os lobinhos teriam que sair pelo mundo e procurarem seus próprios alimentos. O lobinho se despediu dos irmãos e seguiu seu caminho. Andou, andou, até que chegou a uma floresta muito bonita e intocada, cheia de animais e frutas, que o lobinho adorava comer. Com o passar dos anos, pessoas foram construindo casas bem próximas à floresta. O lobinho foi crescendo e vivia feliz, porém, de tanto os caçadores matarem os animais, o lobo, que já era um jovem, foi ficando cada vez mais sem ter o que caçar. A vida do lobo ficava cada dia mais difícil, mas ele não tinha para onde ir, pois se tentava se aproximar das casas, procurando algum alimento, os homens ficavam muito bravos e tentavam mata-lo. Ele não entendia porque os homens podiam invadir sua floresta, mas ele não podia nem sequer se aproximar da casa deles, afinal, ele também precisava sobreviver...O lobo tornou-se adulto e a coisa ficava cada dia pior, pois além de quase não ter mais o que caçar, ele tinha que viver fugindo das pessoas que apareciam na floresta, muitas para caçar os poucos animais que restaram, só por diversão. Um belo dia, o lobo deu de cara com uma menina que vestia uma estranha capa vermelha e trazia uma cesta de piquenique nas mãos. O lobo, de início, levou um susto e pensou em fugir, mas a menina puxou conversa e parecia não estar com aquela coisa que cuspia fogo. A menina disse ao lobo que era filha do caçador e que estava perdida. Queria chegar à casa da avó que estava doente, mas ao pegar um atalho havia se perdido na floresta. Ela explicou como era a casa da avó e o lobo logo se lembrou onde ficava. Ele explicou para a menina como chegar lá, ela agradeceu e foi embora. O lobo, com o estômago roncando, voltou para dentro da floresta, tentando achar algo para comer. Foi quando ouviu um estouro, seguido de um zunido no ouvido... logo percebeu que o caçador perto e que tentou abate-lo sem mais nem menos. O lobo correu, mas estava magro e faminto e o caçador tinha cães que latiam bem alto e estavam bem alimentados. Um deles alcançou o lobo e lhe deu uma bela mordida na perna, mas felizmente o lobo conseguiu escapar. Exausto, no limite de suas forças, entrou num rio que passava perto e se deixou levar pela correnteza. Enquanto lutava pela vida, o lobo pensava porque o caçador queria matá-lo, já que ele tinha tanta comida em sua casa, não precisava matar o lobo para se alimentar, então porque fazer tamanha maldade? Pois se ele, o lobo, um animal selvagem, não fez mal algum à filha do caçador quando a encontrou, até a ajudou a achar o caminho da casa da avó! Finalmente o lobo não ouvia mais os latidos e nadou até a margem. Seu estômago doía de fome, seu machucado doía de dor e seu coração doía de indignação. O lobo avistou uma casa e resolveu entrar, lá devia haver algo para comer, e o lobo não agüentava mais de fome, nem conseguia pensar direito. Assim que entrou, percebeu que estava na casa da avó da menina, e que ela não estava em casa, então o lobo comeu o que encontrou e deitou-se um pouco na cama da velhinha para descansar. De repente ele ouviu um barulho na porta. Em seguida ouviu a voz conhecida da menina da capa vermelha, chamando: - Vovó! O lobo ficou assustado, pegou a touca e a camisola da avó que estavam em cima da cama e vestiu rapidamente. A garota, que era meio míope, nem notou a diferença. Sentou-se na cama e começou a conversar com o lobo, pensando que era a avó. De repente, aproximando-se mais do lobo, perguntou:
- Vovó, porque a senhora está com essas orelhas tão grandes? - E o lobo respondeu:
- É para te ouvir melhor, querida. - A menina perguntou ainda:
- Vovó, e por que seus olhos estão tão grandes?
- É para te ver melhor, querida. - Respondeu o lobo.
- E essa boca tão grande? O lobo pensou um pouco com seus botões: “Essa é a chance de me vingar dessas pessoas que invadem a minha floresta e matam todos os animais. Afinal, o pai dessa menina que eu havia ajudado quando estava perdida, tentou me matar, sem a menor piedade... agora ele é quem vai ver uma coisa”... e respondeu, mostrando bem os dentes:
- É para te comer!!!
A menina levou um tremendo susto quando percebeu que era o lobo quem estava ali, tentou sair correndo, mas foi agarrada pelo lobo, já pronto para devora-la. Foi quando a vovó chegou e, vendo aquela cena, implorou chorando ao lobo, que a devorasse no lugar da neta. A vovó disse ao lobo que a neta não tinha feito nada de mal a ele, mas que se ele quisesse mesmo se vingar, acabasse com ela e poupasse sua querida neta, pois ela era a mãe do caçador que tentara mata-lo. O lobo, vendo o desespero daquela senhora, tão frágil e delicada, percebeu que a vingança não resolveria seu problema, não impediria que o caçador matasse outros animais e também não faria o lobo sentir-se melhor. O lobo pediu desculpas à vovó e à menina, contou tudo o que vinha passando, e que se sentia solitário e perdido, já que seus amigos foram todos mortos pelo caçador. A vovó ficou emocionada e penalizada com a situação do lobo e propôs que ficassem amigos, ele poderia vir almoçar e jantar todos os dias com ela, seriam amigos e fariam companhia um para o outro, já que ela também vivia sozinha. Ela contou ao lobo que, como era já bem velha, seu filho, o caçador, não tinha muita paciência com ela, então ela preferiu morar ali sozinha, e a única pessoa que a visitava era a netinha querida. De repente, eles ouviram o latido dos cães, que farejaram o cheiro do lobo. A velhinha pegou a cesta que a neta lhe trouxe, deu ao lobo e disse:
- Tome isto para passar alguns dias até tudo se acalmar. Mas não se esqueça, de agora em diante somos bons amigos e espero você para as refeições. Agora fuja, meu amigo, que se meu filho te pega aqui, você virará troféu de parede! O lobo disse adeus à velhinha e à menina e partiu, sumindo na floresta.
Desde então, ouve-se uma história maluca, espalhada pelo caçador, de que o lobo comeu a vovó e atacou a menina, mas felizmente o caçador havia chegado a tempo de salvar a filha e ainda por cima abrir a barriga do lobo, retirando sua mãe vivinha da silva lá de dentro. A partir de então, todos passaram a ter medo do tal do “Lobo Mau” que vivia escondido na floresta.
Florianópolis, 06/11/2007
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