RESENHA: Filme Troya
Tânia Aparecida Neves Barth
Os poemas épicos retratam fatos heróicos, numa narrativa bastante extensa que contém grandes feitos de heróis que tanto podem ser reais, quanto mitológicos, ou lendários. Os poemas épicos são históricos, no entanto os fatos são conhecidos através de narrações que se repetem no decorrer dos tempos. Desta forma, embora os poemas tenham a pretensão de retratar fatos e feitos reais, têm sua origem em lendas preservadas ao longo dos tempos pela tradição oral.
Os poemas épicos mais conhecidos são Ilíada e Odisséia. A Odisséia fala principalmente dos heróis envolvidos na guerra de Tróia, homens que vêm do mar com suas poderosas naus, com o intento de conquistar a cidade protegida por muralhas instransponíveis e heróis que tentam proteger seu povo e sua família.
O filme “Troya” narra a história de amor proibido entre Páris, príncipe de Tróia, e Helena, esposa do Rei de Esparta, Menelau. Páris rapta Helena e a leva para Tróia, onde é aceita como princesa, provocando a fúria do marido traído e possibilitando ao ambicioso Agamenon, irmão de Menelau, iniciar a histórica guerra para conquistar Tróia. Através dos mares, os heróis argonautas iniciam sua viagem para lavar a honra de Menelau e conquistar a tão cobiçada cidade. Unem-se a eles, os guerreiros gregos e reis conquistados, além de Aquiles, filho de deuses, que era descrito como um grande e invencível guerreiro, que tinha apenas o calcanhar como parte vulnerável de seu corpo. No entanto Aquiles, um guerreiro arrogante e independente, que não servia a nenhum rei, acaba por se apaixonar por Breseida, sobrinha do Rei de Tróia, retirando-se então da batalha. Quando Aquiles já se preparava para abandonar Tróia e voltar para a Grécia, seu primo é morto em batalha por Heitor, príncipe primogênito de Tróia.
Pode-se notar no filme Troya as características marcantes do gênero épico, onde se retrata possíveis costumes da época, tais como a queima dos mortos ou o ritual de arrastar o corpo do inimigo por três vezes para consagrar a vitória do vencedor. No entanto, cenas do filme parecem inverossímeis, perdendo-se em repetições e clichês cinematográficos. O verdadeiro herói do filme parece ser Heitor, eclipsando o famoso Aquiles, interpretado por Brad Pitt que, apesar de sua bela forma, mostrou um Aquiles desalentado, pouco expressivo. O amor arrebatador de Páris e Helena não convence, e o de Aquiles por Briseida convence menos ainda. Falta ao Aquiles do filme o propósito e a vivacidade dos grandes heróis épicos, sua arrogância mais parece birra de menino mimado e não a autoconfiança de um filho de deuses gregos.
Apesar dos deslizes do filme, pode-se notar a grandeza da guerra de Tróia, os feitos heróicos de seu povo, na defesa dos seus. Pouco se vê, no entanto, da ação dos deuses, percebe-se que estão envolvidos no tema apenas através das citações e do misticismo que leva o rei de Tróia a tomar decisões que o conduzem à derrota.
O filme tenta retratar o mundo épico, bastante irreal para o homem contemporâneo. Sabe-se, entretanto, que os mitos e as lendas são carregados de simbologia e dramaticidade que, ainda que latentes, não são vivenciadas pelo homem contemporâneo. Assim, o filme tenta reproduzir a imagem de um passado embelezado, de heróis gloriosos e onipotentes que se colocam de um modo superior à experiência contemporânea. No entanto, talvez pela necessidade do entretenimento que um filme “holywoodiano” representa, o roteiro distanciou-se da linguagem épica, resultando numa superprodução com figurinos questionáveis, histórias pessoais mal colocadas e excesso de efeitos especiais que tentam conferir ao filme um caráter grandioso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Escreva aqui seu comentário. Participe!