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terça-feira, 29 de agosto de 2017



EDUCADOR, QUE SEMENTE VOCÊ ESTÁ PLANTANDO?

                                                                                                                                    (Tânia Neves)


Ultimamente, tem-se discutido muito a respeito do papel do educador (tanto do professor quanto do pedagogo), isso porque há uma controvérsia séria entre pais e educadores. 

Por um lado, os pais não concordam com a forte interferência que o Estado (Governo) tem feito na educação, inserindo programas político-partidários e material didático controverso nas disciplinas da Educação Básica, Ensino Médio e até mesmo nas universidades federais. 

Por outro lado, os responsáveis pela educação no Brasil argumentam que o Estado (Governo) deve tomar para si a educação, de modo a direcionar e conduzir o que será ensinado nas escolas, mesmo que vá contra os princípios das famílias dos estudantes.

A questão, na verdade, é: qual é a função da escola e do educador? Uma sociedade livre e desenvolvida é feita de cidadãos com capacidade de raciocinar de modo crítico e livre a respeito das questões que envolvem sua vida. Desse modo, a escola deveria ser o local que proporciona aos aprendizes, não só informação, mas formação, no sentido de ampliar sua visão de mundo. 

O Estado, sendo por força um organismo político-partidário, deve atuar apenas como regulador na educação. O papel do educador não é doutrinar e formar adeptos políticos, mas ajudar aqueles que estão em formação a desenvolver senso crítico. Para isso, o educador exerce o papel de mediador de conhecimento (de forma imparcial), de modo a levar o aluno a ver todos os lados de uma situação para que possa chegar a conclusões próprias, baseadas em seus próprios princípios e valores. 

O educador não trabalha para nenhum governo, pois os governos mudam. O que fica para o futuro é a sociedade que o educador forma, portanto, o educador é aquele profissional que planta as sementes de uma sociedade. O resultado que se verá no futuro depende da qualidade da semente que foi plantada. 

 AS CAPACITAÇÕES SIGNIFICATIVAS PARA O ALUNO DO SÉCULO XXI


Tânia Neves[1]




RESUMO



A educação é o esteio da sociedade. Por meio dela preparamos nossos jovens para o futuro. Essas frases são amplamente ditas e conhecidas, o que não tem, necessariamente, gerado resultados contundentes para melhorar a qualidade de vida pela educação. É evidente que precisamos entender e nos adequar às mudanças sociais, psicológicas e comportamentais consequentes da evolução humana. A globalização foi determinante para o novo rumo que a humanidade tomou. As tecnologias de comunicação dominam o cotidiano, principalmente dos jovens, de modo que o acesso à informação é amplo. Com esse advento, o papel da escola e do professor como fonte de informações e conhecimento também sofreu profundas mudanças. Temos visto conflitos e problemas advindos do descompasso entre as expectativas do novo aluno do século XXI e da escola, que parece não ter acompanhado tais mudanças no mesmo ritmo. Este artigo tem como objetivo apresentar, por meio de pesquisa bibliográfica, posicionamentos, experimentos e conceitos de professores, pesquisadores e autores ligados à educação, neurociência e psicologia. À luz de tais reflexões, busca-se contribuir para que as discussões sobre planejamento pedagógico, programas educacionais e condução em sala de aula possam contribuir para a melhoria da qualidade da educação no Brasil. Novos paradigmas parecem ser necessários para que se possa ajudar nossos jovens a caminhar em direção ao sucesso. A prioridade pode não ser mais as capacitações cognitivas. Outras capacitações parecem ser mais congruentes para a educação do aluno do século XXI.


Palavras-chave: Educação. Caráter. Cognição. Motivação.  



1 INTRODUÇÃO

As mudanças ocorridas no perfil psicológico, social e comportamental dos jovens após o século XX são contundentes, e isso se torna evidente quando nos encontramos em uma sala de aula, diante de alunos que já nasceram num mundo imerso nas tecnologias de comunicação.
Não se pode dizer que seja uma tarefa fácil acompanhar e se adaptar a esses novos alunos que, não raras vezes, utilizam a tecnologia com muito mais desenvoltura do que o professor. Parece que estamos chegando ao ponto de saturação comunicativa; somos bombardeados com informações o tempo todo. No entanto, essa acessibilidade à informação e à comunicação não resulta numa interatividade conforme a conhecíamos até o século XX. As relações pessoais sofreram transformações, o modo de interpretar o mundo também.
Tais transformações têm ocorrido numa rapidez desafiadora para os educadores, de modo que se faz necessária a adaptação do corpo docente, da estrutura escolar e dos paradigmas no processo ensino-aprendizagem. Segundo Parolin (2014, s.p.), “com facilidade, ouvimos mães reclamando que seus filhos dormem muito tarde porque não conseguem desligar seus jogos eletrônicos; que as crianças não brincam entre si porque ficam no tablet ou no iPad, que em vez de estudarem, passam horas em chats de bate-papo”. Por outro lado, muitos professores também têm encontrado dificuldades para obter a atenção de seus alunos e motivá-los a participar das atividades propostas, pois “queixam-se de alunos desatentos, que ficam trocando mensagens durante as aulas e dormitam entre uma e outra” (PAROLIN, 2014, s.p.).
A educação do século XXI tem como missão promover o desenvolvimento de pessoas e sociedades com base em quatro pilares, segundo relatório da Comissão Internacional de Estudos sobre a Educação, encaminhado para a Unesco. São eles:


Aprender a conhecer (adquirir cultura geral ampla e domínio aprofundado de um reduzido número de assuntos, mostrando a necessidade de educação contínua e permanente); aprender a fazer (oferecendo-se oportunidades de desenvolvimento de competências amplas para enfrentar o mundo do trabalho); aprender a conviver (cooperar com os outros em todas as atividades humanas) e aprender a ser, que integra as outras três, criando-se condições que favoreçam ao indivíduo adquirir autonomia e discernimento.[2]


O objetivo é promover a inclusão, propiciando aos jovens aprendizes base para exercer sua cidadania, afinal, o simples fato de receber um certificado ao final de um curso do ensino regular, técnico ou superior não garante que todos os aspectos necessários para o desenvolvimento pessoal e intelectual daquele jovem tenham sido estimulados em plenitude.
A questão é: que aspectos deveriam ser impulsionados, instigados e explorados para que se obtenha o melhor resultado para o pleno desenvolvimento dos alunos?  Para se atingir os objetivos daqueles quatro pilares, faz-se necessário compreender o perfil do aluno do século XXI, suas características, seu comportamento, seus limites e suas expectativas. Esse deve ser o ponto de partida para as mudanças e adequações nas práticas docentes e no cotidiano das instituições de ensino. Muitos conflitos têm ocorrido em sala de aula, prejuízos no processo ensino-aprendizagem, além de evasão escolar por conta de um descompasso entre as expectativas dos jovens alunos e dos professores, que nem sempre se sentem preparados para motivá-los a participarem do processo ensino-aprendizagem.
Tough (2014, p.18) pontua que “temos prestado atenção nas capacitações e habilidades erradas em nossos filhos e recorrido a estratégias equivocadas para alimentar e transmitir essas capacitações”, de modo que, segundo o autor, notas altas não significam necessariamente sucesso na educação, há outros fatores mais determinantes que esses.
Sternberg (2014, p.61) destaca que “chega-se ao mundo com muitas estruturas e muitos mecanismos instalados, mas o ambiente funciona para desenvolvê-los e para possibilitar que atinjam seu potencial”, portanto, do ponto de vista da neurociência cognitiva, as intervenções oriundas do ambiente podem ser o diferencial para que o aluno desvele suas melhores competências e logre sucesso em sua caminhada.
O objetivo deste trabalho é buscar definir as principais características do aluno do século XXI, bem como discutir conceitos e pesquisas relacionadas ao desenvolvimento humano e à educação. Valendo-se de pesquisa bibliográfica, espera-se levantar reflexões que, à luz de diferentes autores e diferentes campos de pesquisa, contribuam para o trabalho do docente e sirvam de apoio para o desenvolvimento de atividades que despertem a motivação dos alunos e seu pleno desenvolvimento.
A seguir, serão apresentados alguns conceitos e considerações a respeito de comportamento, cognição, educação e desenvolvimento pessoal.


2 O PROCESSO DE MUDANÇA SOCIAL NO SÉCULO XXI


O final do século XX foi marcado por uma onda de liberalismo bastante significativo. A queda do muro de Berlim, além do liberalismo econômico e político sobrepujariam as prioridades sociais e de proteção ao trabalho. Esses fatos históricos causariam uma mudança importante nas relações de trabalho, na educação e no modo de vida em todos os países, principalmente com a introdução das novas tecnologias no cotidiano das pessoas. Novas e, parece, infinitas possibilidades se abriram, no que diz respeito à comunicação e obtenção de informações. O progresso mundial ganhou impulso, no que diz respeito à efervescência da globalização. Conforme aponta Bock (1980), o progresso está intimamente ligado à mudança social, ao desenvolvimento e à evolução. Pode-se ponderar, portanto, que o progresso implica mudanças culturais e nos processos sociais, de modo que as relações humanas, sejam familiares, profissionais ou sentimentais também sofrem transformações.
O modelo patriarcal e centralizador é substituído, primeiramente no mundo corporativo, pela administração colaborativa, o que passou a influenciar as relações pessoais. A forte inserção das mulheres no mercado de trabalho também provocou mudanças nos modelos familiares e suas relações. As novas formas de relacionamento passam a ser voltadas para um modo mais participativo, ou seja, as decisões já não eram mais tomadas exclusivamente pelo chefe da família. Os filhos passaram a emitir opiniões e, cada vez mais, terem autonomia para decidirem a respeito de seu futuro. O século XXI apresenta, portanto, um cenário de infinitas possibilidades, escolhas, acesso a informações de toda espécie, ou seja, o mundo agora é um só. Está tudo aí, a nosso dispor, para que se possa decidir livremente a respeito de tudo que envolva nosso destino e nosso modo de viver. Para os jovens, essa liberdade de escolha e de acesso leva, também, a muitas incertezas e, por que não dizer, a uma crise de valores.

2.1 Reflexo das mudanças sociais na educação                           

As mudanças sociais e culturais certamente refletem na educação. O Estado, como o conhecemos, está perdendo sua legitimidade; uma consequência da descentralização política e dos modos de produção e organização empresarial. Ocorre que essas mudanças têm acontecido num ritmo muito rápido, e o sistema educacional tem seu próprio tempo. Toda mudança vislumbrada na área da educação é complexa, pois envolve o futuro de gerações e consequências para a toda a sociedade. No entanto, as transformações sociais, econômicas e culturais ocorridas no século XXI exigem uma adequação no sistema educacional e levantam algumas questões a serem discutidas. Segundo Imbérnon (2000), existe uma crise escolar, e ela se dá por alguns fatores:

·         A escola não forma para o trabalho: existe um forte discurso social que considera que os objetivos da escola fracassaram, já que ela não forma para o acesso ao mercado de trabalho. Esse discurso, em parte, é falacioso, pois tanto quantitativa como qualitativamente está demonstrado que a posse de títulos e estudos são chaves para alguém não ser excluído do mercado de trabalho. Por outro lado, a escola, prospectivamente, não pode prever quais serão as ocupações que as pessoas realizarão, uma vez que, continuamente, estão sendo geradas novas profissões, além de já não termos uma única ocupação ao longo de nossa vida profissional.
·         O fracasso e o abandono escolares: os índices do fracasso escolar aumentaram na última década. Esse é um dos principais motivos que levaram à deslegitimação da escola, culpando os meninos e as meninas, as famílias, o meio, o sistema etc. Embora esses discursos estejam profundamente arraigados, finalmente se está analisando que papel tais personagens desempenham na escola e em que contribuem para o fracasso.
·         O fracasso das formas educativas: o debate sobre a LOGSE (Lei de Ordenamento Geral do Sistema Educacional Espanhol) está sendo centrado em se foi baixado ou não o nível; ninguém, nem sequer os que planejaram a reforma diz que o tenha aumentado e menos ainda que o tenha feito suficientemente para enfrentar os desafios da sociedade informacional. Quem dá essa desculpa deveria dizer-nos onde as orientações da reforma deram resultado e se contribuíram para superar o fracasso escolar, aumentando a aprendizagem dos setores mais desfavorecidos. (IMBÉRNON, 2000, p.28).

Os fatores apontados por Imberón como indicativos da crise escolar têm sido amplamente discutidos. Essa discussão é fundamental para que se proponham mudanças e adequações, de modo a otimizar o aproveitamento dos docentes e contribuir efetivamente para que a escola desempenhe seu papel no desenvolvimento dos jovens. No entanto, qual seria, de fato, o papel da escola? Que aspectos humanos a escola deve ou deveria buscar desenvolver para preparar os jovens para o sucesso? Paul Singer (1996) comenta:

Educar seria primordialmente isto: instruir e desenvolver faculdades que habilitem o educando a integrar o mercado de trabalho o mais vantajosamente possível. Cumpre atentar para o pressuposto crucial dessa visão: o de que a vantagem individual, que se traduz em ganho elevado e outras condições favoráveis de usufruto material, é simultaneamente social.   (SINGER, 1996, p.6).

Essa definição sobre o que seria educar nos leva à reflexão sobre o papel da escola na inclusão social. O fator “globalização” provocou uma verdadeira revolução na passagem do século XX para o XXI. Fox (2004, p. 47-48), citando Chomsky, pondera que “sean cuales sean los sueños que la gente tenga acerca del progreso y acerca de como construir un mundo mejor, la globalización econômica parece destinada a seguir produciendo una cresciente brecha entre ricos y pobres[3] [...]”. Esse tema tem sido alvo dos programas educativos, que visam diminuir essa brecha e preparar jovens (principalmente os excluídos) para conseguirem inserção no mercado de trabalho, exercerem a cidadania e terem seus direitos a uma vida digna preservados. No entanto, o plano de levar a educação aos excluídos parece não apresentar os resultados esperados. Singer (1996) comenta:

A abertura das portas da escola à massa dos menos afortunados não produziu os efeitos esperados e desejados, ou seja, o encaminhamento daqueles a melhores oportunidades de inserção econômica, política e social. Em vez de a escola elevar os filhos dos marginalizados, foram aparentemente estes que degradaram a escola ao multiplicar as repetências e a evasão, ao introduzir nas salas de aula seu cotidiano de violência e alienação. (SINGER, 1996, p. 12)

Se Chomsky estiver correto em afirmar que há uma brecha cada vez maior entre ricos e pobres, pode-se dizer que a educação não está logrando sucesso em servir de ponte que conduza os menos favorecidos àquele lugar na sociedade onde se possa sentir a realização de contribuir de modo produtivo para o progresso da comunidade, constituir uma vida digna e usufruir de sua cidadania. Consideremos o questionamento de Singer, quando coloca:

Que tipo de pessoa nossas escolas estão formando e para que tipo de sociedade? Se a democracia é uma conquista irreversível — e quero crer que é —, qual é o modelo de cidadão consciente que inspira nosso ensino? Será que os nossos currículos correspondem adequadamente ao desejo natural de aprender dos jovens, motivando-os a participar ativamente do processo educativo? (SINGER, 1996, p. 12)


Esse questionamento nos leva à seguinte reflexão: é a educação que molda os cidadãos ou são os cidadãos que determinam o modelo de educação a ser adotado? Podemos considerar a possibilidade de que é o cidadão que determina o modelo da educação se admitirmos que os programas educativos determinados de modo unilateral, sem se levar em consideração as peculiaridades dos aprendizes, não têm levado ao sucesso. É o que nos revelam as pesquisas relativas à evasão escolar, violência nas escolas e analfabetismo funcional. Os profissionais envolvidos na educação e no processo ensino-aprendizagem, por mais que recebam cursos de capacitação, parecem ainda se sentir perdidos e frustrados com o baixo rendimento dos alunos, desinteresse e evasão escolar.
Desse modo, pode-se afirmar que conhecer o perfil deste novo aluno do século XXI, seus anseios, suas expectativas, seus problemas e conquistas é requisito fundamental para o ajustamento do currículo, do programa de ensino e da administração escolar.
Veremos, a seguir, algumas considerações a respeito das características desse novo aluno e futuro cidadão do século XXI. Tentaremos contribuir para a reflexão sobre os aspectos sociais e psicológicos que formam o jovem atual e que devem ser considerados na forma de pensar a educação e o sistema de ensino-aprendizagem, de modo a motivar e estimular os alunos a participarem do processo.


3 O PERFIL DO ALUNO DO SÉCULO XXI


       A despeito das teorias pedagógicas, o aluno atual não se enquadra mais no formato pré-determinado dos modelos educacionais praticados até hoje. Até o século passado, era a escola quem moldava o sujeito, no entanto, essa concepção de educação parece não mais se adequar e não produzir resultados satisfatórios.
       Os alunos do século XXI nasceram num mundo dominado pelas novas tecnologias. Deste modo, ele não aceita mais a escola como um centro de informações, ele quer estar em um espaço de diálogo, onde ele possa se expressar e mais, onde ele possa ser surpreendido. Sim, pois informação ele tem à sua disposição, então, o papel do professor é possibilitar experiências novas, que levem esse aluno a novas reflexões.
       Segundo Caio Barreto et al.:

A entrada das novas tecnologias digitais na sala de aula criou um paradigma na educação: como tais ferramentas, que os alunos, não raro, já dominam, podem ser aproveitadas por professores que, frequentemente, mal as conhecem? As escolas têm, pela frente, um desafio e uma oportunidade. O desafio: formular um projeto pedagógico que contemple as inovações tecnológicas e promova a interatividade dos alunos. A oportunidade: deixar para trás um modelo de ensino que se tornou obsoleto no século XXI. (BARRETO et al., 2009, s.p.)


       A tecnologia é já inerente à vida do jovem, ou seja, não há como ignorá-la ou considerá-la algo não desejável em sala de aula. As escolas que ainda resistem ao uso de tecnologia em sala de aula passam a ter uma relação autoritária com os alunos. Segundo Parolin (2014, s.p.), o desafio da escola de hoje é promover uma aprendizagem que humanize e promova a inserção social. Para isso, é preciso compreender algumas características dessa geração, que é:

[...] conectada, mas impaciente; hiperativa, com atenção limitada a pequenos intervalos de tempo; que não pensa em linearidade, mas em descontinuidade; que tende às multitarefas; que desrespeita seus educadores e se identifica com ícones midiáticos; que vive no senso de urgência (que tem pressa), aliada ao fato de usarem as novas tecnologias com melhor desenvoltura que seus educadores, mas que precisa de ajuda para focar no aprender. (PAROLIN, 2014, s.p.)


       De acordo com a autora, esse é o perfil do jovem atual, aquele que ocupa as salas de aula e que deseja ser motivado e surpreendido, de modo a ter um motivo real para participar das atividades propostas em aula. Encontrar a fórmula para essa motivação e conseguir, de fato, desenvolver as competências e habilidades de nossos jovens é, certamente, um objetivo fortemente almejado pelos professores, diretores, pedagogos e demais profissionais envolvidos com a educação.
       Como ponto de partida nessa busca em obter resultados satisfatórios na educação, abordaremos, a seguir, a questão do novo papel da escola e como motivar o aluno atual. Deste modo, espera-se contribuir para uma discussão mais produtiva, que leve à promoção de uma educação que se identifique com a realidade atual e que tenha uma função efetiva na melhoria de qualidade de vida dos estudantes.


3.1 Que habilidades são realmente importantes para o desenvolvimento dos alunos atuais?


       A finalidade do sistema de ensino é, certamente, levar o aluno ao sucesso. No entanto, parece necessário repensar quais as capacitações são realmente importantes para que se atinja essa finalidade. Até o momento, a capacidade cognitiva, as habilidades matemáticas e linguísticas têm sido consideradas a base do sucesso. A inteligência basta para garantir que o aluno seja considerado promissor e levantar expectativas de triunfo no futuro?
       No final da década de 1990, James Heckman, professor de economia da Universidade de Chicago, passou a supervisionar grupos de pesquisa e a empreender um programa denominado Desenvolvimento Educativo Geral (DEG), no qual o estudante que, por meio de testes, comprovasse conhecimento e inteligência necessários, era dispensado de seguir os estudos no Ensino Médio e receberia o certificado. Ocorre que, embora nos testes de desempenho aqueles que haviam recebido o GED demonstrassem ter inteligência similar aos que haviam concluído o Ensino Médio, quando se verificou a trajetória de ambos os grupos no Ensino Superior, apenas 3% daqueles que tinham o GED se matricularam ou concluíram a faculdade, enquanto 46% dos que efetivamente cursaram o Ensino Médio cursavam ou já tinham concluído o Ensino Superior.
       Segundo Tough (2014):

O que estava faltando nesta equação, concluiu Heckman, eram os traços psicológicos que haviam permitido aos indivíduos de Ensino Médio completo terminar os estudos. Esses traços – tendência a persistir em tarefas tediosas e muitas vezes sem recompensa aparente; capacidade de adiar a gratificação; tendência a seguir um plano – também se revelavam valiosos na universidade, no trabalho e na vida de maneira geral. (TOUHG, 2014, p.21-22)


     Um estudo coordenado pelo Dr. Bruce Perry, um dos mais importantes neurocientistas do mundo, acompanhou um grupo de alunos desde a pré-escola até a idade adulta. A ideia era verificar se crianças, filhas de pais com baixa renda, ao frequentar a Perry Preschool e obter acompanhamento escolar, tinham seu QI desenvolvido, em relação a um grupo de controle que não tinha acompanhamento escolar. Nesse estudo, verificou-se que, após o terceiro ano de ensino, o QI dessas crianças não era melhor do que as do grupo de controle.
     O professor James Heckman decidiu fazer um novo estudo utilizando os dados dos alunos da Perry Preschool e chegou a algumas conclusões importantes. Segundo Heckman (2013):

Embora não produzindo ganhos de longo prazo no QI, o programa Perry efetivamente gerou melhorias duradouras no caráter, reduzindo substancialmente comportamentos agressivos, antissociais e de desobediência às regras, o que consequentemente melhorou uma série de resultados no mercado de trabalho e em comportamentos em relação à saúde, assim como reduziu a atividade criminosa. (HECKMAN, 2013, s.p)





     Ainda segundo o autor:


[...] o caráter pode ser moldado de uma forma melhor por meio de uma educação de qualidade na primeira infância, desde o nascimento até os cinco anos de idade, que deve ser posteriormente reforçada na adolescência e no início da fase adulta. Os formuladores de políticas, educadores e ativistas sociais e econômicos agiriam de forma sensata se adotassem as seguintes medidas: • Investir em programas de qualidade de educação para a primeira infância, para crianças de 0 a 5 anos de idade. • Certificar-se de que os programas de educação para a primeira infância abranjam o desenvolvimento cognitivo e do caráter. • Levar em conta o caráter e seus efeitos sobre o aproveitamento escolar e os resultados práticos na idade adulta ao avaliar os programas de educação para a primeira infância. • Desenvolver instrumentos de medida eficazes para o caráter e utilizá-los com o mesmo rigor atualmente aplicado para testar as habilidades cognitivas. • Colocar uma ênfase maior no desenvolvimento do caráter ao longo do ensino fundamental e médio, com um forte reforço durante os anos da adolescência. (HECKMAN, 2013, s.p.)


     A formação do caráter pode ser considerada, então, a base da motivação e da possibilidade de sucesso dos jovens aprendizes, visto que a informação por si só perdeu seu protagonismo no processo de educação. Os alunos da escola KIPP Academy de Nova Iorque, por exemplo, eram informados desde o primeiro dia de aula sobre a importância de cursar uma faculdade. Os professores decoravam a sala e os corredores com flâmulas das Universidades onde se formaram e um grande cartaz foi fixado na escada, dizendo “GALGAR A MONTANHA ATÉ A FACULDADE”. O que se denominou “pontos fortes do caráter” foi ensinado de maneira explícita, com mensagens espalhadas pela escola, tais como: “Seja gentil”; “Não existem atalhos” e “Trabalhe com afinco”.
     As capacitações ligadas ao caráter podem ser aprendidas, mas uma forma eficiente de ensiná-las é mostrar por que elas são importantes. O aluno precisa saber o resultado prático, as vantagens de se lapidar o caráter.
     No Brasil, os altos índices de criminalidade entre jovens, a violência nas escolas, a evasão escolar e o baixo índice de aproveitamento são claros sinais de que é preciso mudar o modo de se educar. Sem princípios e valores estabelecidos, boas notas em disciplinas como matemática, geografia ou história, por exemplo, não parecem ter grande significado para a vida dos alunos e futuros cidadãos.
      


2      CONSIDERAÇÕES FINAIS

       O sistema de ensino atual, que exige que o aluno se adeque a ele, tem se mostrado ineficiente. Não se pode considerar o ambiente escolar como um local à parte do que acontece na sociedade. As famílias mudaram, a sociedade mudou, a escola também precisa mudar.
       A escola é um espaço de convivência dos jovens, é um local onde eles se encontram, trocam experiências e se relacionam. Ela pode e deve ser, portanto, um lugar de possibilidades, de crescimento, de experiências e onde o jovem possa ter voz. Para isso, é importante que a escola conheça esse jovem. Ele não é mais o mesmo do século passado, ele mudou e essa mudança parece não ter sido considerada ou percebida no sistema escolar.
       Esse aluno multitarefas do século XXI, segundo os autores citados aqui, não mais se adequa ao antigo modelo educacional. Talvez seja preciso olhar melhor para suas necessidades e expectativas, pois, conforme afirma Imbérnon, realmente não é possível prever que atividades profissionais serão demandadas pelo mercado no futuro, nessa época de mudanças rápidas. Além disso, responsabilizar os jovens, suas famílias ou o sistema de governo pelas dificuldades em alcançar sucesso na educação é inútil.
       Todos sabemos dos problemas enfrentados pela sociedade brasileira, que parece perplexa diante de novos modelos de comportamento, do aumento exponencial da criminalidade e da desmotivação dos jovens em buscar o sucesso. A escola tem sofrido as consequências dessas mudanças, de diversas formas. Professores frustrados e amedrontados, alunos sem perspectivas e pais ausentes ou confusos em relação ao seu papel na vida escolar.
       Esse cenário indica fortemente que mudanças precisam ser feitas. A concepção de escola que produzia conhecimento, passava informações e impunha um modelo pronto para que seus alunos fossem inseridos num mercado de trabalho já determinado não existe mais. O mercado também tem mudado com frequência, muitas profissões se tornam obsoletas ou pouco interessantes, quando outras são criadas. Cada vez mais, características comportamentais e de atitude são valorizadas e consideradas importantes para o sucesso profissional. Afinal, informações estão disponíveis a todos. O aluno atual não vê motivo para estar por horas em uma sala de aula, recebendo informações que pode rapidamente obter na web. A escola precisa oferecer algo mais. Há uma lacuna, no que diz respeito às capacitações de caráter, que são o que realmente importa na atualidade.
       O aluno que tem a oportunidade de desenvolver capacitações como responsabilidade, comprometimento, determinação, disciplina e identidade certamente estará mais preparado para exercer qualquer profissão. Este trabalho buscou apresentar estudos voltados para essa perspectiva e apontar dialogicamente possibilidades que contribuam para promover uma educação eficaz e voltada para o desenvolvimento pleno do cidadão e da sociedade.      




REFERÊNCIAS


BOCK, K. Teorias do progresso, desenvolvimento e evolução, in T. Bottomore e R. Nisbet (orgs.). História da análise sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1980, p. 176-189.

FARIA, Josimerci  Ittavo  Lamana; CASAGRANDE, Lisete Diniz Ribas. A educação para o século XXI e a formação do professor reflexivo na enfermagem. Revista Latino-americana de Enfermagem. Ribeirão Preto: USP, setembro-outubro/2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v12n5/v12n5a17.pdf. Acesso em: 24/08/2015.

FOX, Jeremy. Chomsky y la globalización. Barcelona: Gedisa, 2004.

HECKMAN, James; PINTO, Rodrigo; SAVELYEV, Peter. Understanding the mechanisms through which an influential early childhood program boosted adult outcomes. American Economic Review 2013.

IMBÉRNON, Francisco. A educação no século XXI – desafios de um futuro imediato. Porto Alegre: Artmed, 2000.

PAROLIN, Isabel. Aprendizagem em tempos de web. Disponível em: http://www2.escolainterativa.com.br/canais/20_encontros_tem/encontros/2014/anexos/texto_isabel_parolin.pdf. Acesso em: 25/08/2015.

TOUGH, Paul. Uma questão de caráter: por que a curiosidade e a determinação podem ser mais importantes que a inteligência para uma educação de sucesso. Trad. Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.












[1] Mestre em Neuropsicologia Cognitiva e Inteligências Múltiplas pela Universidad Camilo Jose Cela (Espanha). Especialista em Psicopedagogia pelo Instituto Superior Tupy – UNISOCIESC. Graduada em Letras pela Univali (Santa Catarina). Membro do corpo editorial da revista Caminho Aberto do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Docente de Comunicação Oral e Escrita e Metodologia Científica do Centro Tecnológico do Senai Florianópolis (CTAI). E-mail: tania@cursostanianeves.com.br
[2] Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v12n5/v12n5a17.pdf. Acesso em 27/08/2015.
[3] “sejam quais sejam os sonhos que as pessoas tenham acerca do progresso e acerca de como construir um mundo melhor, a globalização econômica parece destinada a seguir produzindo uma crescente brecha entre ricos e pobres” (Tradução da autora).

terça-feira, 3 de julho de 2012

Linha Crítica Adotada pela Revista Veja


UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

UNIVALI
  

SEMINÁRIO DE CRÍTICA LITERÁRIA



Tânia A Neves Barth, Lourdes C Moreira, Denise Zanon

1.      O objetivo desta pesquisa é identificar a existência, ou não, de uma linha crítica adotada na revista Veja, no que se refere às críticas apresentadas na página “livros”.

2.      O método utilizado para a realização desta pesquisa foi a análise das tendências de estilo das críticas, referentes a livros recém-lançados no mercado, apresentadas na página “livros” da revista “Veja”, números 28, 29, 30, 31 e 32.



3.      ANÁLISES:


3.1  Análise de Tânia A Neves Barth - Revista Veja número 28 – p. 130


Livro: DESONRADA

Autor: Mukhtar Mai

Título da Crítica: O RESGATE DA HONRA

Autor: Ronaldo Soares



(O livro conta o relato de uma paquistanesa, sobre sua dor de ser estuprada por quatro homens diante de sua aldeia).

A crítica de Ronaldo Soares apresenta elementos que remetem ao estilo de Crítica Biográfica e Crítica Sociológica. Os elementos de Crítica Biográfica estão presentes no texto de Ronaldo Soares, onde o crítico destaca fatos da vida de Mukhatar, demonstrando que vida e obra da autora do livro estão intimamente relacionados, pois a partir de acontecimentos trágicos ocorridos em sua vida, Mukhatar desenvolveu o tema, numa atitude de exortação ou desabafo. Logo no início da crítica, Ronaldo descreve o fato central do livro que, embora num primeiro momento pareça uma descrição biográfica da autora feita pelo crítico, trata-se de um trecho extraído do livro:


A paquistanesa Mukhtar Mai apertou seu exemplar do “Corão” contra o peito quando ouviu, na presença de mais de 100 homens, a sentença que o conselho de sua aldeia acabara de lhe impor: um estupro coletivo. Integrante de uma casta inferior, Mukhtar fora até lá apenas para pedir clemência para o irmão mais jovem.


Em outro trecho da crítica, Soares cita novamente dados da vida da autora, agora com contexto informativo:


A camponesa pobre e analfabeta, nascida Mukhtaran Bibi, virou uma ativista conhecida mundo afora pelo codinome Mukhtar Mai, que significa “grande irmã respeitada” em urdu, o idioma oficial de seu país. Seu livro, publicado no ano passado, é o terceiro na lista dos mais vendidos na França. Nele, conta como se deu essa transformação. Narra sua luta por justiça e relata barbaridades cometidas contra mulheres em seu país.


Os elementos de Crítica Sociológica são identificados na descrição que Soares faz das condições sociais vividas pelas mulheres no Paquistão, que se tornaram o mote do livro. Demonstra também a importância da obra como instrumento de reação a tais condições, sendo o primeiro passo para o início de ações sociais que visam mudar esse quadro. Tais elementos podem ser notados nos seguintes trechos do texto de Ronaldo Soares:


Mais que um desfecho de uma querela tribal, o livro narra como Mukhtar transformou sua tragédia pessoal em uma boa causa: a defesa dos direitos das mulheres em seu país. E com isso, tornou-se um símbolo da luta das mulheres no mundo islâmico.


... ela iniciou um movimento que contesta a condição humana feminina em seu país e questiona hábitos ancestrais como o jirga, conselho tribal que a condenou ao estupro.


Soares cita, ainda, a crítica divulgada pelo New York Times:


... Para o jornal The New York Times, ela é “A Rosa Parks do século XXI”, comparação feita com a americana-símbolo do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos.


E continua:


Ainda que movida pela revolta, Mukhtar apostou na educação como forma de mudar a realidade de seu país.


3.2  Análise de Lourdes C Moreira - Revista Veja número 29 – p. 118 e 119


Livro:  O BAZAR ATÔMICO

Autor: William Langewiesche

Título da Crítica: O APOCALIPSE DOS POBRES

Autor: Jerônimo Coelho



(È um livro-reportagem, que faz um alerta para a proliferação de armas atômicas entre países instáveis).


O texto de Jerônimo Teixeira traz elementos presentes na crítica Historiográfica, visto que procura explicar a obra pelas condições exteriores de sua criação sob a perspectiva histórica, sociológica e psicológica. Apresenta referências contextuais que evidenciam aspectos da ameaça nuclear, oriunda tanto de países ricos como de países pobres.


O fim da Guerra Fria, no início dos anos 90 parecia ter encerrado a ameaça do apocalipse nuclear. Mas então os doidos da Al Qaeda derrubaram o World Trade Center, em 2001, e o desmantelamento da União Soviética se transformou em favor adicional de pânico. E se os terroristas colocarem as mãos no material nuclear das antigas repúblicas soviéticas?



Há predomínio do contexto, pois a análise é fundamentada nos aspectos que causariam o uso da energia atômica por países terroristas, e faz um paralelo entre o ocorrido em Hiroshima em 45; caminha para os testes nucleares realizados pelo Paquistão em 1998.


As primeiras páginas de O Bazar Atômico centra-se nos efeitos da bomba que destruiu a cidade de Hiroshima, em 1945, e levou a que o Japão se colocasse de joelhos, diante dos Estados Unidos.[...]


A proliferação atômica em países pobres e instáveis é, essa sim, um risco imediato. O Irã dos aiatolás está desenvolvendo seu programa de enriquecimento de urânio, e só depois de muita pressão internacional a Coréia do Norte desistiu neste ano de seu programa nuclear. [...] O verdadeiro centro irradiador dessa nova corrida nuclear é o Paquistão, que fez seus primeiros testes nucleares em 1998.


O crítico salienta também as questões psicológicas e econômicas que afetam o planeta com a proliferação das armas atômicas e suas consequências.


Os pesadelos de destruição global da Guerra Fria podem estar distantes. Mas a convivência explosiva de Paquistão e Índia coloca em cena o perigo dos apocalipses regionais. E, se quatro jatos de passageiros foram capazes de sacudir todo o tênue equilíbrio geopolítico mundial, é de imaginar que ruína um atentado nuclear causaria na já tão abalada psique do planeta.


3.3  Análise de Lourdes C Moreira  - Revista Veja número 30 – p. 134 e 135


Livro:  HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE

Autor: J. K. Rowlling

Título da Crítica: AGORA ACABOU

Autor: Isabela Boscov



(Agora Acabou de Isabela Boscoy faz crítica à obra As Relíquias da Morte de J. K. Rowling)



A crítica de Isabela Boscoy com relação à referida obra é de cunho Biográfico e Sociológico.

Traz elementos da crítica biográfica quando destaca a autora em relação à obra, informando que é líder de vendas e ressalta a fortuna conseguida através da sua escrita, apesar de sua narrativa ser considerada banal. “A prosa de Rowling é banal e seus personagens são unidimensionais e seu grande dom, como escritora, é o de argumentista – assim que supera uma abertura um tanto lenta”. Em outro momento também afirma, “ Fãs comemoram o lançamento, no último sábado: Rowling quebrou todos os recordes que pertenciam a Rowling.[ ...] 1 bilhão de dólares é em quanto se estima a fortuna pessoal de J. K. Rowling” Paralela à crítica biográfica percebe-se também elementos da crítica sociológica quando apresenta o conhecimento do contexto (prática da leitura) em confronto com o romance (os atrativos desta leitura), isto é, a autora de Harry Potter traz para sua obra temas que interessam ao leitor jovem, que é o maior público de sua obra. “Com Harry Potter e as Relíquias da Morte, encerra-se um fenômeno editorial. E renova-se a pergunta: ele criou novos leitores?” Ainda afirma, “Eis, então, aquela que sempre foi a maior qualidade de Rowling: a confiança de que o público infanto-juvenil está à altura de temas como traição, morte, abandono, lealdade e responsabilidade.”

E ao final da crítica, Boscoy, faz uma fusão destas duas críticas destacando tanto a autora como o fenômeno do interesse dos jovens pela obra.


Os 325 milhões de exemplares vendidos por Rowling até as Relíquias da Morte sugerem que algo de positivo, sim, há de sobrar desse fenômeno. Nem que seja apenas a constatação de que não pode ser responsabilidade de uma única escritora resolver um problema – o desinteresse de toda uma geração pela palavra escrita- para a qual pais e professores não conseguem encontrar solução adequada.


3.4  Análise de Denise Zanon  - Revista Veja número 30


Livro: A EVOLUÇÃO DAS COISAS ÚTEIS

Autor: Henry Petroski

Título da Crítica: MIUDEZAS GENIAIS

Autor: Jerônimo Teixeira


O crítico Jerônimo Teixeira apresenta uma mescla de crítica Historiográfica e Sociológica. Historiográfica quando analisa a obra a partir do aspecto da evolução histórica que os objetos comuns sofreram no decorrer dos séculos. Afirma, “Ao reconstruir a evolução histórica desses apetrechos simples o autor ilumina os complicados caminhos da inovação”.

Sociológica quando associa os objetos às necessidades do homem e à insatisfação desse homem dentro do seu contexto e com os objetos dos quais faz uso, o que provoca a discussão da própria sociedade.


Petroski não aceita o clichê segundo o qual a necessidade é a mãe da invenção. O homem, pondera, tem necessidade de água, mas não de cubos de gelo ou ar condicionado. “O luxo é a mãe da invenção”, diz o autor.


O texto é um pretexto para a discussão da sociedade e seus costumes, o homem explicando as mudanças e a criticidade. Petroski ensina que o inventor é, antes de tudo, um crítico. É a partir da percepção de defeitos nas coisas existentes que ele chega a um design inovador. Afirma [...] “Este é um processo inesgotável, pela razão simples de que não existe invenção humana que não comporte algum defeito. E foi essa insatisfação permanente que produziu todos os modernos luxos eletrônicos.”

Nas críticas cujo autor é Jerônimo Teixeira percebe-se uma tendência para as críticas Historiográficas e Sociológicas. Não há por parte dele exaltação ao autor, mas sim ao contexto histórico e às pertinências sociais.


3.5  Análise de Tânia A Neves Barth - Revista Veja número 31 – p. 136 e 137


Livro:  A CIDADE DO SOL

Autor: Khaled Hosseini

Título da Crítica: O SIDNEY SHELDON AFEGÃO

Autor: Jerônimo Teixeira


(O livro conta a história, passada em Cabul, sobre duas mulheres casadas com um homem bruto que as espancava e as obrigava a usar a burca, antes mesmo que o regime Talibã o tornasse obrigatório)


Logo no início de sua crítica ao livro “Cidade do Sol”, Jerônimo Teixeira demonstra sua forte tendência à Crítica Sociológica:


...em Cabul, durante o regime fundamentalista, do Talibã – cuja idiotia ideológica e religiosa proibia comezinhas como televisão, música e pipas - , até mesmo assistir o filme Titanic no videocassete de casa era um perigoso ato de transgressão.



... A cidade do Sol é, ao contrário, uma espécie de Sidney Sheldon islâmico: um romance sobre mulheres sofredoras, amaldiçoadas pela sorte e humilhadas por homens maus, mas que no fim conseguem (ou, pelo menos, uma delas consegue) dar a volta por cima.



É importante ressaltar que o tema do livro possui forte cunho sociológico, pois conta a história de duas mulheres afegãs, esposas de um homem violento e radical, que em nome do fanatismo religioso comete atrocidades com as mulheres. No entanto, as características da Crítica Historiográfica se fazem presentes em vários momentos do texto de Jerônimo Teixeira, tal como:


Hosseini oferece um retrato palpável da vida no Afeganistão ao longo das últimas quatro décadas – um conturbado período que inclui a invasão soviética, guerras civis, o regime talibã e a ocupação americana. Despertada pelos eventos de 11 de setembro de 2001, a curiosidade ocidental pela realidade dos países islâmicos responde por parte do sucesso de Hosseini.


  1. Relatório da pesquisa


A revista Veja é um periódico publicado semanalmente, que possui as seguintes características, referentes ao público-alvo:

-          Faixa social: A/B e C
-          Escolaridade: Médio/Superior
-          Homens e mulheres
-          Profissionais qualificados/Formadores de opinião
-          Ativos no mercado de consumo e entretenimento


Em relação ao tema proposto, as críticas referentes aos livros recém-lançados no mercado são publicadas por autores diversos, o que elimina a uniformidade de estilo dos textos. A revista Veja tem proposta de entretenimento e informação ao público em geral, além de ser um veículo de mídia com interesses mercadológicos. Portanto, de modo geral, a revista tem uma tendência para destacar elementos do contexto histórico e social das obras analisadas, inserindo-se as críticas Historiográfica e Sociológica.

Das cinco revistas analisadas, três críticas são de autoria de Jerônimo Teixeira (A evolução das coisas úteis de Henry Petroski; A cidade do sol de Khaled Hosseini e O bazar atômico de William Lange Wiesche). Esse crítico ressalta elementos nas obras que induzem a discussão da sociedade na qual  a narrativa e os personagens estão inseridos, trazendo paralelamente informações históricas desse contexto social, destacando também elementos da Crítica Historiográfica.

Além de enfatizar a sociedade, o crítico estabelece uma relação entre sociedade e literatura, pois, é necessário fazer com que o leitor tenha interesse pela obra, não esquecendo que a revista, além de informar, tem uma finalidade mercadológica.

Percebe-se também um olhar para o estudo cultural, pois essas obras apresentam os diferentes aspectos da cultura em que a temática está inserida, com um olhar voltado para a estrutura social e o contexto histórico.




segunda-feira, 6 de junho de 2011

"Nós Pega o Peixe"

BARTH, Tânia Aparecida Neves.
Artigo publicado no jornal Diário Catarinense, Caderno: Cultura, Florianópolis, 04 de junho de 2011.


A língua portuguesa falada no Brasil dormia em berço esplêndido, até a divulgação do Novo Acordo Ortográfico. As mudanças ortográficas provocaram críticas e elogios, mas, principalmente, fizeram com que as pessoas se dessem conta de que já tinham esquecido muitas das regras gramaticais, mesmo aquelas que não eram referidas no acordo. Ia-se escrevendo “por osmose”, utilizando as vagas lembranças das aulas do ensino fundamental e médio. Digo “vagas lembranças” porque, como professora, posso afirmar que muitos jovens, com algumas exceções, saem do ensino médio sem condições de se expressarem bem numa simples redação. Muitos, inclusive, apesar de saberem ler, não conseguem interpretar o que leem.
A internet tem sido apontada como grande inimiga de nosso idioma, mas não é bem assim. Ela é mais uma plataforma de comunicação; quem sabe escrever, escreve corretamente em qualquer plataforma. O “internetês” pode ser utilizado nas conversas rápidas com os amigos via internet, mas na hora de se fazer uma redação para vestibular, por exemplo, obviamente é a linguagem formal que será utilizada. Uma coisa não exclui a outra. Quando a escola, que é o local onde aprendemos as regras que regem a expressão escrita de nosso idioma nativo, cumpre a sua função, não será a internet que nos tirará o conhecimento adquirido.
Essa conversa nos leva, irremediavelmente, à tão controversa cartilha Por uma Vida Melhor, escrita pela professora Heloísa Ramos e distribuída pelo MEC a 4.236 escolas da rede pública, na qual a autora configura o idioma como fator de preconceito social e afirma que a frase “Nós pega o peixe” está correta, pois é considerada “norma popular”. Na verdade, a linguagem popular - ou coloquial - não prevê normas, pois varia de acordo com o contexto social e regional. A frase publicada no livro da professora Heloísa, que diz: "A classe dominante utiliza a norma culta principalmente por ter maior acesso à escolaridade e por seu uso ser um sinal de prestígio", nos dá uma dimensão da precariedade da visão do Estado em relação ao ensino da língua portuguesa no Brasil. Diga-se, de passagem, que a verdadeira classe dominante no país, hoje, é a classe política; afinal, que cidadão brasileiro consegue construir fortunas que garantam vida abastada a várias gerações de herdeiros, sem produzir absolutamente nada?
O idioma, assim como a moda, a música, além de outras formas de expressão, são considerados aspectos da cultura de um povo. Argumentar que o acesso à escolaridade e o conhecimento da norma culta são fatores de preconceito social e conflito de classes é como dar um tiro no pé. Entendo que todos os cidadãos devem buscar o “prestígio”, pois a ideia é que todos possam, através da educação, alcançar sucesso profissional e social. No entanto, como conseguir ascensão social e profissional falando “Nós pega o peixe”?
Na realidade, o caminho a ser feito é o inverso. Verificamos, com abundância, falhas gramaticais em comerciais de TV, folhetos de propaganda, revistas, jornais, livros, artigos científicos, websites... possuo uma coleção e não dou conta de juntar mais material de estudo. O brasileiro precisa de aproximação com seu idioma. Há um mito de que o Português não é fácil, mas, o que dizer do Alemão, Japonês ou Mandarim? Muitos brasileiros estudam e aprendem tais idiomas, basta observar o grande número de escolas de línguas estrangeiras existentes no Brasil.
O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein escreveu: “Os limites de minha linguagem são também os limites do meu pensamento”. Considero esta frase um resumo exato sobre a importância da capacidade de expressão através das palavras. Aquele que não tem conhecimento do uso das palavras não tem ferramentas para expressar seus pensamentos, portanto, encontra dificuldade para exigir seus direitos, defender suas ideias, divulgar seus conhecimentos, enfim, é facilmente manipulado e tolhido em sua cidadania.
Admito que os livros sobre regras gramaticais são, em geral, densos e parecem destinados àqueles que já são estudiosos do idioma. Após alguns anos lecionando somente para adultos, pude detectar onde estão as maiores dificuldades encontradas na utilização das regras gramaticais, como o uso da vírgula, da crase, dos pronomes relativos, concordância e regência. Nos trabalhos de revisão que executo, onde corrijo livros, monografias e teses, essas dificuldades ficam mais evidentes. Existe muito esforço para se colocar as ideias de forma coerente no papel. Passei a oferecer cursos para acadêmicos e profissionais que desejam relembrar alguns aspectos gramaticais e atualizarem-se em relação à reforma ortográfica. O mercado de trabalho tornou-se mais exigente, no que diz respeito à linguagem, o que, felizmente, está levando muitos profissionais a buscarem o aperfeiçoamento da expressão escrita e verbal. Além dos cursos, lancei, em 2010, o livro Português Facilitado, onde procuro abordar a gramática de forma simples e, como o próprio nome diz, facilitada. A língua portuguesa é um aspecto importante de nossa cultura; é bonita, musical e merece ser tratada com carinho.

Professora Tânia Neves
www.professoratanianeves.com.br

quarta-feira, 24 de março de 2010

A leitura e o processo cognitivo

A LEITURA E O PROCESSO COGNITIVO



Tânia A Neves Barth



Resumo

Este trabalho tem como objetivo discutir a leitura e sua relação com o processo cognitivo, bem como os tipos de leitores e suas características. O trabalho apresenta um breve comentário sobre a definição de o que é leitura, a ciência cognitiva, sua relação com a leitura, os três tipos de leitores e suas características.


Palavras-chave: Leitura, cognição, ciência cognitiva, leitor imersivo, leitor contemplativo, leitor movente.


Abstract

This work has as objective discusses the reading and its relationship with the cognitive process, as well the types of readers and their characteristics. The work presents a brief comment about the definition of what is reading, the cognitive science and its relationship with the reading, the three types of readers and their characteristics.


Keywords: Reading, cognition, cognitive science, reader imersivo, thoughtful reader, reader movente.





1. Introdução



O ato de ler é reconhecidamente importante para a o amadurecimento intelectual, já que abre os horizontes e desenvolve o senso crítico do leitor. Mas, o que é leitura? José Morais (1996), afirma que ler nas entrelinhas, nos lábios ou na expressão facial do interlocutor não pode ser considerado uma forma de leitura, pois este processo de interpretação de sinais é definido como percepção. Para Morais, a leitura é indissociável da escrita, só havendo leitura quando há ou houve escrita. O ato de leitura implica na aquisição de informação, não na utilização ulterior da informação adquirida. Essa capacidade de entendimento, percepção, passa pelo processo cognitivo, ou seja, a atenção, a memória, o raciocínio, o juízo, a imaginação, o discurso e o pensamento.



2. A ciência cognitiva


Segundo Morais (1996), quando uma criança aprende a ler, associa uma forma ortográfica a cada palavra, ou seja, à sua forma fonológica. Na aprendizagem da leitura, há a associação das significações de tais formas fonológicas. Torna-se possível, então, obter a significação a partir da forma ortográfica, sem mediação fonológica. Portanto, os processos específicos da leitura não são os de compreensão, mas os que levam à compreensão. A leitura do mundo precede a leitura da palavra escrita, já que a compreensão do que se lê implica as diferentes percepções de cada indivíduo no que se refere ao texto e ao contexto.
Nesse sentido, o estudo da ciência cognitiva traça um paralelo entre a mente e o cérebro, que é comparado ao paradigma computacional, ou seja, o funcionalismo. O funcionalismo defende a idéia de que os estados mentais que levam à percepção pessoal do objeto de leitura são estados físicos descritos de forma funcional. A neurociência cognitiva, resultado da mistura de neurociências e ciências cognitivas, visa a decifrar os caminhos que levam os elementos neuronais às atividades fisiológicas que resultam na compreensão, na percepção, ou seja, na cognição. Esta descoberta nos levaria a desvendar o mistério sobre o que leva uma mesma informação a ser percebida de formas tão distintas por indivíduos que possuem o mesmo nível intelectual. A construção de sentenças, representações de pensamentos, segue regras sintáticas para cumprir seu papel de comunicar. Estes símbolos, organizados sintaticamente, são comparados com o software de um computador, cujo sistema operacional tem, segundo os estudiosos da neurociência cognitiva, estreita relação com as atividades fisiológicas do cérebro no processo cognitivo. O internauta, leitor que tem a possibilidade de interagir e manipular a informação, de forma a selecionar apenas o que lhe interessa, foi classificado como: novato, leigo e experto. Essa classificação refere-se ao relacionamento de descoberta e entendimento das possibilidades de interagir e obter as informações no meio digital.



3. Os três tipos de leitores


“A performance de leitura é o grau de sucesso do ato de ler, a atividade é o conjunto de eventos que se passam no cérebro e no sistema cognitivo, bem como nos órgão sensoriais motores; os objetivos são a compreensão do texto escrito e/ou o alcance de uma impressão de beleza e a capacidade é a parte dos recursos mentais específicos da atividade de leitura, que mobilizamos ao ler.” (Morais, 1996, p. 110-114).
Para Nora (1997), o leitor da nova geração, aquele que já nasceu no mundo da comunicação instantânea, da realidade virtual, apresenta dificuldade para ler textos na íntegra, de praticar a reflexão. Desta forma, somente a leitura de livros, ou de textos lineares seriam considerados como verdadeiros objetos de leitura. No entanto, devemos admitir que há outros modos de ler, assim como há diferentes tipos de leitores. Segundo Flusser (1987), há três formas de leitura, correspondentes aos três perfis cognitivos: o sobrevoador apressado, o farejador desconfiado e o desdobrador cuidadoso. No primeiro caso, o leitor lê ao acaso, passando os olhos aos saltos, fazendo associações e adivinhando o contexto. Este seria, portanto, o leitor de jornais e revistas. Já o farejador desconfiado tenta, como um detetive, desvendar as intenções implícitas nos signos do texto, podendo ser caracterizado como o leitor de sinais, luzes e signos urbanos; e o desdobrador cuidadoso é o leitor crítico, ou seja, o leitor de livros.
Santaella (2004), define os três tipos de leitores como contemplativo, movente e imersivo. O leitor contemplativo (desdobrador cuidadoso) remete ao leitor de livros, crítico, que se relaciona com os signos sem pressa, permitindo-se retornar a um trecho já lido, meditar sobre ele. O leitor movente (sobrevoador apressado), é o homem moderno, que passou a viver em grandes centros urbanos, sempre apressado, cujo excesso de estímulos o levam a tornar-se um leitor fugaz. Com o advento da tecnologia e da linguagem virtual, surge o leitor imersivo, aquele que navega na leitura dinâmica, no que diz respeito ao seu modo de interagir com o suporte e com a informação ali contida. Suas características cognitivas, ainda pouco exploradas, sinalizam uma mudança no funcionamento de sua percepção e sensações cognitivas.


Conclusão

Os estudos a respeito da ciência cognitiva são bastante amplos e estão longe de terem chegado a um resultado conclusivo. Trata-se de um tema com várias vertentes e amplo leque de possibilidades. No entanto, o surgimento do computador possibilitou uma relação comparativa entre nosso sistema cerebral de caminhos para a percepção e o sistema logaritmo do mundo virtual. A relação do homem com sua forma de ler e entender os signos foi se modificando no decorrer do tempo, mas, embora novos tipos de leitores tenham surgido devido às transformações da vida moderna e ao aparecimento do computador, o leitor crítico, ou contemplativo, continua existindo, podendo ser ele também denominado como leitor imersivo. Ao contrário de todas as previsões e preconceitos, o mundo digital não provocou o desaparecimento do leitor crítico ou contemplativo, apenas fez surgir um novo modo de leitura e de relacionamento com o texto, onde as informações, embora estejam disponíveis e sempre à mão, assim como nos livros, podem ser manipuladas e selecionadas pelo leitor.



5. Referências


SANTAELLA, Lúcia. NAVEGAR NO CIBERESPAÇO. O perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo, Paulus, 2004.

FLUSSER, Vilém. In:________NAVEGAR NO CIBERESPAÇO. São Paulo, Paulus, 2004, p. 176.

MORAIS, José. O QUE É LEITURA? In: A ARTE DE LER. São Paulo, UNESP, 1996, p. 110-114.


Florianópolis, fevereiro de 2010.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O Leitor Crítico

O Leitor Crítico
Tania A Neves Barth


A palavra tem o poder de mudar os rumos não só de uma sociedade, mas de toda a humanidade. Aquele que tem o domínio da palavra, como Adolf Hitler, por exemplo, pode convencer milhões e promover a barbárie, ou, como Ghandi, promover a paz e a igualdade. Segundo Ezequiel Theodoro da Silva (2002: p.24), “a escrita, como qualquer outro meio de comunicação numa sociedade dividida em classes, pode servir a propósitos de alienação ou de emancipação/libertação”. A leitura nas salas de aula, que há muito tem sido utilizada como instrumento de alienação, mais que de libertação, é extremamente importante no processo de desenvolvimento da capacidade crítica do aluno. A leitura crítica desvenda a possibilidade de transformação da realidade, mostrando ao aluno que existem, sim, contradições e injustiças, mas que a atitude de cada um pode mudar esse quadro. Estamos falando de cidadania, palavra que pode incomodar aqueles que buscam o poder através de falsas ideologias e do domínio da sociedade.
Através da prática da leitura crítica, o aluno passa a questionar a opinião do autor, comparando-a com outros autores, percebendo os diferentes pontos de vista e tecendo sua opinião, com conhecimento de causa. Desta forma, é importante trazer outros tipos de texto para a sala de aula, e não somente os encontrados nos livros didáticos. Com textos de diferentes autores falando sobre o mesmo assunto, pode-se promover debates e posicionamentos críticos, fazer ligações com outros textos, levar o aluno à produção textual onde seu posicionamento seja respeitado. A escola deve ser, portanto, o lugar onde se possa refletir, questionar, posicionar-se, agir e transformar. Silva afirma ainda que “pela leitura crítica o sujeito abala o mundo das certezas (principalmente as da classe dominante), elabora e dinamiza conflitos, organiza sínteses, enfim combate assiduamente qualquer tipo de conformismo, qualquer tipo de escravização às idéias do texto” (SILVA,1998, p.26). A sociedade globalizada tem um poder enorme e a leitura crítica tem seu lugar de destaque. A quantidade de informações disponíveis nos dias de hoje é imensa e sua leitura deve ser selecionada, sendo isto possível somente se houver o leitor crítico, pois o leitor como simples consumidor passivo de mensagens não pode mais existir.
O que normalmente acontecia, ou acontece nas salas de aula é a leitura como decodificação de sinais, um ato meramente mecânico, onde, através de questionários o aluno deve formular as respostas de interpretação dos textos. Desta forma, por vezes o aluno busca no texto apenas a resposta para as perguntas do questionário, sem nem sequer lê-lo integralmente.
Os interesses sociais das classes dominantes que se escondem nos textos didáticos comumente são ignorados tanto pelos professores quanto pelos alunos, o que alimenta a desigualdade e a injustiça social, alimentando a relação de conformismo de um povo que não consegue discernir sobre sua capacidade de mudança de tal situação. Deste modo, as classes populares encaram a leitura como algo obrigatório para a mudança de suas condições de vida, e não como uma forma de expressão, que pode mudar não só sua condição financeira, mas toda a estrutura social de seu país.
A formação do leitor crítico implica uma conscientização do professor para que se inicie nas escolas a formação do leitor crítico. Segundo Silva, há a “necessidade de uma visão mais coerente sobre o ato de ler por parte daqueles envolvidos com a educação do povo, daí a necessidade da formação de leitores que saibam trabalhar criticamente o material didático” (SILVA, 1988, p.10). Afirma ainda que “pela leitura o sujeito abala o mundo das certezas (principalmente as da classe dominante), elabora e dinamiza, organiza sínteses, enfim, combate assiduamente qualquer tipo de conformismo, qualquer tipo de escravização às idéias referidas pelos textos”. (SILVA, 1998, p.26). A situação real atual de violência, guerras, corrupção e abuso de poder não aparecem nos textos didáticos, que não condizem com a realidade do aluno. Toda aquela situação de otimismo e de sociedade perfeita que aparece nos textos didáticos, não funcionam na vida real, não dizem respeito ao dia-a-dia do aluno.
A língua portuguesa ensinada como é atualmente, torna-se um instrumento de alienação, deixando de ensinar os modos de uso da língua para ensinar simplesmente sobre a língua.

Florianópolis, 02/07/2008