quinta-feira, 23 de julho de 2009

A Língua Portuguesa no Telejornalismo Brasileiro

A PADRONIZAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA NO TELEJORNALISMO BRASILEIRO

ESTUDO DE CASO: JORNAL NACIONAL DA REDE GLOBO

Florianópolis 2007

A PADRONIZAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA NO TELEJORNALISMO
BRASILEIRO: ESTUDO DE CASO JORNAL NACIONAL DA REDE GLOBO

Aluna: Tânia A Neves Barth*
Orientadora: Profa. Eliana C Moreira Utzig**

Resumo

Este trabalho tem como objetivo discutir a padronização da língua nativa brasileira, oral e
escrita, veiculada pelos telejornais, destacando o Jornal Nacional, da Rede Globo de
Televisão. O trabalho apresenta um breve relato sobre o surgimento do telejornalismo no
Brasil, registros da produção dos scripts da primeira edição do Jornal Nacional, regras
lingüísticas utilizadas, e normas criadas pelos editores para a apresentação oral dos textos.
Através de entrevistas realizadas em outubro de 2007, com profissionais da RBS de
Florianópolis, responsáveis pela produção de matérias jornalísticas da região de Santa
Catarina para a Rede Globo, levantou-se um comparativo das mudanças nas regras de
padronização ocorridas no decorrer dos anos. A identificação das normas adotadas para a
padronização da linguagem, foi feita através de pesquisas bibliográficas, artigos acadêmicos e
sites relacionados ao assunto.

Palavras-chave: Telejornalismo, linguagem oral e escrita, Jornal Nacional.

Abstract:

This paper aims to discuss the standardization of Brazilian native language, oral and written,
conveyed by TV news, highlighting the Jornal Nacional, the Globo Television Network. The
work presents a brief report on the emergence of TV news in Brazil, records of the production
of scripts of the first edition of the Jornal Nacional, rules language used, and standards created
by publishers for the oral presentation of texts. Through interviews conducted in October
2007, with professionals RBS, Florianopolis, responsible for the production of material news
from the region of Santa Catarina to Rede Globo, raised to be a comparison of changes in the
rules of standardization that occurred during the years. The identification of standards adopted
for the standardization of the language was done by bibliographic searches, scholarly articles
and web sites related to the subject.

Keywords: Journalism of TV, oral and written language, Jornal Nacional.

* Tânia A. Neves Barth é acadêmica do 8o. período do curso de Letras Português-Inglês na Universidade do Vale do Itajaí/SC, musicista,
atriz registrada no Departamento Regional do Trabalho/SP e produtora de TV.

Mail: taniabrazil_8@hotmail.com

** Orientadora: Profa. Eliana Utzig é mestre em Educação, professora das disciplinas Língua Portuguesa, do curso de Letras, Linguagem Jurídica, do curso de Direito, e Prática Docente, do Núcleo das Licenciaturas, Coordenadora dos projetos de extensão: Encantarolando e Na Ponta da Língua. Mail: eutzig@univali.br

Introdução

O telejornalismo, bem como os demais veículos de comunicação, é responsável por fazer
com que os fatos importantes do dia-a-dia cheguem ao conhecimento dos cidadãos. Sua
missão é comunicar tais fatos de forma que todos os telespectadores, independente de sua
região, entendam perfeitamente o que o apresentador ou repórter tem a dizer. Além disso, o
jornalista responsável por transmitir a notícia, via de regra, deve parecer imparcial, não
emitindo opiniões pessoais a respeito do assunto.
Conforme afirma Hilton Japiassu (1994), “os fatos não falam” (Japiassu, 1994, p.09), ou
seja, a informação que chega aos jornalistas ou repórteres é narrada por pessoas que
participaram dos fatos ou o presenciaram, trazendo em seu relato impressões próprias do
ocorrido. Cabe aos editores e jornalistas a responsabilidade de filtrar tais impressões e
transportar o fato para o papel, da maneira mais objetiva possível, evitando palavras ou frases
que contenham em suas entrelinhas a intenção de julgamento.
Devido ao amplo poder de abrangência da TV, a missão de comunicar, no que diz respeito
ao telejornal, não é tão simples como parece. Na mídia impressa, caso o leitor não entenda o
que foi dito, tem-se a possibilidade de retornar ao assunto, reler, refletir, e só então formar
uma opinião sobre o que o repórter ali escreveu.
Pode-se ter uma idéia da abrangência da TV no Brasil através dos dados divulgados pela
Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrodomésticos. Segundo a Eletros,
existem atualmente cerca de 80 milhões de aparelhos de TV no Brasil, ou seja, 87% das
residências brasileiras possuem aparelho de TV (IBGE,2000). Segundo Vera Íris Paternostro
(1999), são características da televisão, enquanto veículo de comunicação em massa:
informação visual, superficialidade, imediatismo, alcance, instantaneidade, envolvimento e
índices de audiência. Na TV, a notícia é comunicada em tempo real, ou seja, há apenas uma
oportunidade de se fazer entender. Qualquer engano ou erro na formulação do texto ou na
forma de emitir a notícia pode causar um mal-entendido, e conseqüentemente, um grande
transtorno à emissora. Segundo o código de ética, “O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação” (In Barbairo & Lima, 2002, p. 161). Desde o início do telejornalismo no Brasil, houve a preocupação de evitar tais transtornos, o que levou os editores de telejornais,
principalmente do Jornal Nacional, a buscarem a padronização da linguagem escrita e oral.
Regras foram criadas, tanto para a construção das frases, quanto para a linguagem oral
utilizada pelos apresentadores. Este trabalho tem como objetivo apresentar um panorama da
padronização da linguagem no telejornalismo brasileiro, destacando o Jornal Nacional,
tecendo um comparativo da evolução desta linguagem, desde a estréia do JN, em 1969, e o
que se pratica hoje na linguagem jornalística da TV.

Breve histórico do telejornalismo brasileiro

O primeiro jornal em imagens que se tem notícia foi produzido em 1909 pelos irmãos
Auguste e Louis Lumière, dois franceses que inventaram o cinematógrafo e que, segundo a
profa. Ruth Viana1 (2003), “se dedicaram a registrar cenas curiosas do mundo e fatos de
importância histórica”. Segundo Tell de Castro2 (2005), o telejornalismo no Brasil teve seu início juntamente com o surgimento da TV. Em 18 de setembro de 1950, Assis Chateubrian inaugurou a PRF-3/ TV Tupi, na cidade de São Paulo, transmitindo sua programação para cerca de 200 televisores. Maurício Loureiro Gama foi o jornalista a comandar o primeiro telejornal da TV brasileira, o “Imagens do Dia”. O jornal não tinha um horário fixo nem período de duração definido. Exibindo imagens ao vivo das notícias diárias, dependia da instabilidade da programação e costumava apresentar problemas técnicos, decorrentes da precariedade dos primeiros dias de funcionamento da TV no Brasil. Os profissionais contratados eram oriundos das rádios, que até então era o principal veículo popular de notícias ao vivo. Portanto, a linguagem usada era de locução, longa, detalhada e os acontecimentos eram narrados ao vivo. Em conseqüência disso, alguns programas de rádio migraram para a TV e fizeram grande sucesso. “Imagens do Dia” durou três anos no ar, sendo substituído pelo “Repórter Esso” em 1o. de abril de 1952 . O “Repórter Esso” era um modelo vindo da rádio e criado a partir de uma solicitação da empresa multinacional Esso, através de uma agência de propaganda norte-americana. Nessa época os programas costumavam assumir o nome de seus patrocinadores. Neste programa, o apresentador gaúcho Heron Domingues, abria o telejornal com a famosa chamada: “Aqui fala o seu Repórter Esso, testemunha ocular da história”. O noticiário passou a ser apresentado diariamente às 20 horas, permanecendo no ar por 18 anos (Tell de Castro, 2005).

*1 Profa. Dra. Ruth Penha Alves Viana é pós-doutoranda do Programa de Pós-Doutorado da ECA-USP, autora do
artigo História Comparada do Telejornalismo: Brasil/Espanha, Rio De Janeiro, 2003.
*2 Tell de Castro é pesquisador e jornalista formado pela Unaerp de Ribeirão Preto/SP. Diretor do site Tele
História, que mantém registros da história da TV no Brasil.

O surgimento do Jornal Nacional da Rede Globo

Em 1965 foi inaugurada a TV Globo, cujas fitas dos programas, segundo Zahar (2004),
eram gravadas em São Paulo ou Rio de Janeiro, sendo depois levadas às principais capitais e
cidades por avião ou ônibus, provocando atraso nas suas exibições.
Em 1969 a TV Globo, de modo pioneiro, investiu num sistema de transmissão por
microondas, em parceria com a Embratel, permitindo que os programas fossem exibidos
simultaneamente em várias cidades. Deste modo, no dia 1o. de setembro desse mesmo ano, foi
ao ar o “Jornal Nacional”. Segundo Tell de Castro (2005), o JN foi idealizado por Alice Maria
Tavares Reiniger e Armando Nogueira, diretores da Central Globo de Jornalismo. Ela
atualmente ocupa a diretoria do jornal “Globo News”, e ele atua como comentarista esportivo
do programa “Sportv”. Os apresentadores que estrearam o Jornal Nacional foram Cid Moreira
e Aroldo de Azevedo, que pela primeira vez terminavam um jornal com a simples frase: “Boa
noite”. Além disso, o JN inovou ao apresentar reportagens internacionais via satélite em
tempo real, sendo também o primeiro a apresentá-las em cores.
O “Jornal Nacional” está no ar há mais de três décadas, e desde sua estréia é líder de
audiência, tornando-se um ícone do telejornalismo brasileiro. Os únicos registros existentes da
primeira edição do “Jornal Nacional” são duas fotos. Os registros em vídeo passaram a ser
arquivados somente a partir de 1973, porém, desta época, poucos foram preservados. Em 4 de
junho de 1976, um curto-circuito provocou um incêndio no prédio da TV Globo, sendo salvos
apenas alguns videotapes e filmes do arquivo existente. Somente a partir de 1980, passou a ser
realizado o arquivamento na íntegra das edições do JN (Zahar, 2004, p. 78).
Segundo Tell de Castro (2005), a primeira mulher a apresentar o Jornal Nacional foi
Valéria Monteiro, em 1992, vinte e três anos após a estréia do programa. No dia primeiro de
setembro de 2000, a Globo decidiu inovar, seguindo as últimas tendências do jornalismo
internacional, o telejornal passou a ser apresentado ao vivo, a partir de uma bancada no
mezanino da redação do Rio de Janeiro, onde a câmera passa pela redação até focalizar os
apresentadores. O primeiro apresentador negro deste telejornal foi Heraldo Pereira, que
estreou em 2002, e atualmente participa do rodízio de apresentadores nas edições de sábados.
A partir do momento em que o Jornal Nacional passou a ser exibido em rede no país, seus
diretores demonstraram preocupação em criar um conceito de telejornalismo que abrangesse
as diversidades regionais e que se fizesse compreender claramente por todos. A partir de
então, criou-se um manual, no qual os novos critérios de redação e apresentação serviriam de
guia. Definiu-se que as matérias que iriam ao ar deveriam trazer conteúdo de interesse geral,
atraindo a atenção de telespectadores de todas as regiões. Nos primeiros anos do Jornal Nacional, segundo Zahar (2004), no boletim metereológico, “tempo bom” significava sol e
“tempo ruim” significava dia de chuva, até que alguns passaram a reclamar. No Nordeste,
castigado pela seca, “sol” queria dizer tempo ruim. Desde então, passou-se a ter o cuidado de
não empregar o adjetivo “bom” ou “mau” para se referir ao tempo, usando no lugar as
expressões “dia ensolarado” e “dia chuvoso” (Zahar, 2004, p.39).

A linguagem escrita no Jornal Nacional

No início do Jornal Nacional não havia o teleprompter, então, o apresentador lia o texto e
olhava para a câmera. O texto era datilografado e mimeografado, o que, por vezes, podia-se
notar pelas mãos dos apresentadores, que ficavam azuis por conta da tinta que se soltava do
papel (Zahar, 2004, p.33). O texto lido pelo apresentador era escrito em forma de script.
Tratava-se de um documento em papel, contendo o nome do jornal, a data, a referência, o
texto de abertura, as manchetes, as inserções comerciais e as notícias. O script era
datilografado em papel sulfite, em letras maiúsculas, com dois espaços entre as linhas,
facilitando assim sua leitura. No topo à esquerda, podia-se ler o nome “Jornal Nacional”, logo
abaixo, a data da exibição. No parágrafo seguinte, encontrava-se o espaço indicativo da
vinheta de abertura, com o texto destacado entre duas linhas horizontais, traçadas de uma
margem a outra. Após, do centro para a direita da página, o texto de abertura da estréia do
programa, separado de modo a produzir o destaque necessário, dividido em duas partes para
leitura dos dois apresentadores. À esquerda do texto encontrava-se a indicação do nome do
apresentador que lia a sua parte, sendo esta separada do texto do outro apresentador por outra
linha horizontal. Ao lado do nome do apresentador seguiam-se as letras “V” ou “O”, entre
parênteses, que eram usadas para designar, respectivamente “Ao vivo” e “Off”. Após o texto
de abertura, outra linha horizontal destacava o momento em que entrava no ar o “reclame”, ou
seja, a inserção comercial. Este formato era utilizado até o final do script.
As edições e anotações sobre o tempo de duração de cada parte do texto, eram feitas à
mão, como pode-se observar na cópia do original apresentado na (fig.1). Pode-se observar
também que, desde o início os editores buscaram diferenciar-se dos demais jornais da época,
que adotavam uma linguagem pomposa e formal. Com uma linguagem coloquial, o JN
buscava conquistar maior intimidade com o telespectador. Porém, havia a preocupação de não
vulgarizar o vocabulário. Os textos passaram a ser curtos e objetivos. Armando Nogueira
impunha rigor lingüístico, através da revisão de todos os textos, fazendo anotações à mão para
corrigir as falhas de estilo. Atualmente, o script de papel foi substituído pelo teleprompter, um
aparelho que fica acoplado à câmera, através do qual o apresentador lê uma cópia digitalizada do script, olhando diretamente para o telespectador enquanto dá a notícia. Ainda assim, o
apresentador tem em sua bancada um script de papel, por medida de segurança, no caso de
haver algum problema técnico com o teleprompter.
O script impresso atual, conforme modelo demonstrado na (fig. 2), é digitado utilizandose
a fonte “Arial” tamanho doze, com espaçamento de três centímetros entre linhas, sendo que
o nome do apresentador aparece ente parênteses, seguido do texto que será lido, bem como as
informações de áudio, telão, telefones dos repórteres de externa e entrevistados, textos das
“deixas”, comentários e instruções sobre as perguntas que devem ser feitas ao entrevistado.
As “deixas” são frases que indicam à equipe que a entrevista voltará ao âncora, no estúdio, ou
que haverá uma entrevista em externa ao vivo, naquele ou em outro local, devendo portanto, a
equipe preparar o áudio e microfone do entrevistado para a transmissão. Do lado esquerdo do
script são apresentadas as informações sobre o título da matéria, se a próxima imagem será ao
vivo, data, tempo de duração, nome do âncora, do editor, e os GCs. Os GCs (Geração de
Caracteres) são legendas informativas que aparecem na parte inferior do vídeo, com o
objetivo de informar o telespectador sobre o nome do repórter e o local da reportagem, o
nome do entrevistado, e sua qualificação.
Pode-se observar no script da figura (1), que o texto, já no primeiro JN, apesar de uma
certa formalidade, era coloquial, com o intuito de facilitar o entendimento pelos
telespectadores. Como havia a dinâmica de intercalar a leitura entre os dois apresentadores, as
frases eram curtas e simples, porém os jornalistas passaram a reduzir o texto à sua expressão
mais simples causando, segundo Zahar (2004), um certo empobrecimento da linguagem.
Armando Nogueira, formado no jornalismo impresso, bastante preocupado com o texto e
tido como perfeccionista, fazia pessoalmente correções nos scripts. Em 1975 ele resolveu
produzir um pequeno manual de seis páginas, mimeografado, que trazia algumas regras sobre
como escrever para televisão. Ele recomendava que o editor falasse o texto em voz alta
enquanto escrevia, para verificar se as frases soariam bem aos ouvidos dos telespectadores, o
que ocasionava maior numero de frases curtas e diretas, onde as palavras supérfluas deveriam
ser evitadas, bem como reduzidos os adjetivos (Zahar, 2004, p. 63). Escrever para televisão era, ainda, uma experiência inédita para os profissionais contratados. Alguns usavam a linguagem coloquial exageradamente, tornando o texto confuso e pouco informativo. O exagero era também empregado no uso dos adjetivos, e falhas na elaboração das frases eram comuns nos textos dos repórteres. Na figura (4), pode-se notar a dificuldade que uma repórter encontra em formular a pauta para entrevista com uma modelo famosa. Algumas palavras foram substituídas por (X) por encontrarem-se ilegíveis no original.
O padrão do Jornal Nacional consolidou algumas normas e expressões no manual de texto
para os seus telejornais, mantendo assim, a objetividade, a linguagem coloquial e evitando os
adjetivos. Busca desta forma, a neutralidade ao noticiar os fatos.
Maria F. Canovas de Moura3 (2005), apresenta em seu artigo “Jornalismo e Produção em
TV”, algumas regras para o uso da linguagem na TV. Segundo Canovas (2005), quanto à
formatação, deve-se utilizar somente um dos lados da página, na coluna Áudio deve-se usar um
tamanho de fonte, de modo que em meia lauda, por linha, tenhamos uma média de 32 dígitos
(Times New Roman, 14 ou Verdana 12). Ainda na coluna Áudio, as entrelinhas devem ter
1,5cm, na coluna Vídeo, as entrelinhas podem ser simples, a fonte da coluna Vídeo pode ser
menor que a Áudio (Times New Roman 08 ou Verdana 08). Deve-se utilizar o lado esquerdo da
lauda para as informações referentes ao Vídeo, marcação de tempo, planos, enquadramento,
movimento de câmera e gerador de caracteres, nunca centralizar ou justificar o texto.

*3 Maria Canovas de Moura é professora de Redação para TV na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e autora do artigo Jornalismo e Produção em TV.

As sílabas não devem ser separadas no final de linha, sendo que um texto de TV não pode ter mais que 20 linhas, usando-se apenas uma lauda para cada matéria, mesmo que o texto seja pequeno.
As normas descritas acima, referentes à formatação, demonstram a necessidade de distribuir
numa mesma lauda, o texto, as informações sobre áudio e as instruções do diretor do telejornal.
As instruções referentes às tomadas das câmeras são escritas no lado esquerdo da pauta e o
texto da notícia do lado direito, sendo usada uma pauta para cada notícia, independente do
tamanho do texto. Tal distribuição facilita e agiliza a leitura do apresentador.
Quanto à lingüística, Canovas (2005) destaca que o texto precisa ser conciso e objetivo,
sendo os artigos imprescindíveis. Os adjetivos devem ser evitados e jamais se deve começar
uma frase com gerúndio. Usar o futuro composto (O presidente viaja amanhã), evitando o
futuro do indicativo (O presidente viajará amanhã), e nunca utilizar o futuro do pretérito. As
formas como mesóclise (cantar-se-ia) e ênclise (vendem-se) devem ser substituídas por próclise
(se vendem casas). Não se deve utilizar pronomes pessoais, mas sim identificar quem fala,
dando nomes. As expressões e tempos verbais devem ser simplificados, bem como termos e
expressões específicos de certas áreas devem ser traduzidos para TV. Os números devem ser
sempre escritos por extenso, evitando-se começar o lead
4 de uma matéria com números. O dia deve ser dividido em 12h, ou seja, manhã, tarde e noite - não usar 24h.
Por se tratar de um veículo de massa, que atinge milhões de telespectadores de regiões e
culturas tão diversas, o desafio do telejornal é transmitir a notícia de maneira clara, cujas
palavras não deixem dúvidas sobre a mensagem a ser transmitida. A opinião pessoal do repórter
não é permitida no Jornal Nacional, apenas pequenos comentários esporádicos. As mesóclises
podem tornar a frase confusa na leitura, os pronomes pessoais são substituídos pelo nome
próprio, deixando claro a quem se refere a notícia. Os artigos definidos são utilizados no início
dos textos, evitando-se assim que o texto fique telegráfico. As regras descritas são consideradas
um cânone do telejornalismo. No entanto, com a velocidade cada vez maior com que as
informações são consumidas, acrescidas das novas tecnologias, algumas dessas regras nem
sempre são utilizadas no dia-a-dia dos repórteres e editores dos telejornais.
Para traçar um comparativo entre a linguagem do início da TV e a linguagem atual, foram
elaboradas perguntas em formato de entrevista estruturada, realizada em 25/10/2007 com
funcionárias da RBS, responsáveis pela produção de matérias jornalísticas para a Rede Globo,
na região de Santa Catarina. O questionário foi dividido em duas partes, sendo a primeira referente à linguagem escrita e a segunda à linguagem oral.

A linguagem oral e o sotaque

A linguagem oral, além da mensagem implícita em suas palavras, passa ao interlocutor
informações adicionais, tais como região de origem, classe social, sexo e faixa de idade. O
sotaque pode, portanto, ser considerado um dos aspectos da cultura de cada região, um
complemento da riqueza linguística. Desta forma, a padronização da linguagem oral adotada
pelos telejornais gera polêmica entre educadores, sociólogos e profissionais da TV, pois o
telejornalismo se utiliza do discurso erístico, que segundo Ribeiro (1988, p.16), “ é aquele
citado por Platão no diálogo “República”, em que não há troca entre falante e ouvinte, não dá
chance ao interlocutor de se manifestar”.
Flávio Freire5 (2006) afirma que “a língua manifesta a cultura de um povo, e o sotaque de
um indivíduo marca sua cultura”. Com a influência da padronização da linguagem oral, o
indivíduo tende a perder seu sotaque e, portanto, acaba perdendo sua cultura.
Segundo Freire, “a padronização deveria se limitar aos regionalismos, sendo o sotaque
preservado. Os regionalismos poderiam gerar uma interpretação errônea, mas os sotaques
deveriam ser livres, ajudando desta forma a preservar e promover a cultura nacional”. Luis
Fernando Veríssimo (2007), afirma que “hoje está todo mundo falando o globês. Os
regionalismos estão acabando”. No entanto, há educadores que apóiam a padronização,
considerando-a uma conseqüência da velocidade com que as informações são trocadas, da
globalização da comunicação, e do próprio dinamismo da linguagem oral. Segundo a
professora de língua portuguesa, Flávia Adriane Sant’Ana Cabral (2006), “a padronização
gera uma neutralidade que evita dúvidas em relação ao que os apresentadores do telejornal
estão anunciando. O texto lido sem sotaques não soa agressivo a nenhuma região e não denota
bairrismo” (grifo do autor). Por outro lado, os profissionais de TV têm a missão de criar
textos que possam ser falados de modo a serem compreendidos e assimilados pelos
telespectadores, objetivo este que poderia não ser atingido se cada apresentador tivesse um
sotaque diferente. Desta forma, os jornais criaram um padrão neutro de linguagem oral, quase
isento de regionalismos e sotaques.
Maria Canovas de Moura (2005) destaca algumas normas do Manual de Telejornalismo,
referentes à linguagem oral. Segundo Canovas (2005), o editor deve ler sempre o texto em
voz alta, antes de entregá-lo ao apresentador. Deve-se também evitar a cacofonia, as rimas e
as palavras com a mesma terminação. Frases entre vírgulas também devem ser evitadas, tanto
quanto as frases longas. O texto não deve ser descritivo, a linguagem deve ser coloquial e
obedecer às regras gramaticais. Os jargões devem ser evitados e as expressões e tempos
verbais devem ser simplificados. A característica mais presente nos manuais de telejornalismo
é a freqüente observação que se faz ao uso de linguagem coloquial e de frases curtas. Estes
parecem ser os principais pontos a serem observados ao escrever um texto para telejornal.
Nota-se também que as imagens exercem primazia sobre a locução. Quando uma imagem é
mostrada, ela é o foco da reportagem e o texto deve ser falado de modo a valorizá-la através
dos recursos de texto. Por vezes, a imagem tem narrativa própria e, por si só, transmite a
informação e a emoção, sem uso de palavras. Nas figuras (7 e 8), contendo a continuação da
entrevista realizada com a jornalista Kíria Meurer e a editora Margarida Santi, pode-se notar
que em geral, na linguagem oral, as regras são aplicadas tanto para o repórter de externa
quanto para o editor, que é responsável pelo texto apresentado na bancada.

Considerações Finais

Partindo do princípio de que o objetivo maior do telejornalismo é comunicar fatos,
observa-se que as regras estipuladas desde o início do telejornalismo no Brasil, com o intuito
de se conseguir uma padronização da linguagem oral e escrita, foram, com o decorrer dos
anos, tornando-se mais flexíveis, pois houve uma aproximação entre jornalismo e
entretenimento.
A necessidade da padronização, da linguagem formal e ao mesmo tempo coloquial, não
deixou de existir. No entanto, hoje o apresentador está mais próximo do telespectador. Com a
utilização do teleprompter, o script tornou-se um elemento de apoio. No entanto, no que diz
respeito à forma, o script ainda é bastante parecido com os do início do telejornalismo, com a
ressalva de que agora, ele é digitalizado. Na entrevista apresentada, nota-se, porém que o
script é utilizado apenas pela editora de texto, na criação dos textos a serem lidos pelos
apresentadores, sendo que para as externas a jornalista afirma que não utiliza script, o texto é
criado por ela, no próprio local, através de captação de informações junto ao entrevistado.
Segundo a jornalista Kiria Meurer (2007): “No caso de fatos extraordinários, como a queda do
avião da Tam em São Paulo, por exemplo, todos os jornalistas são deslocados para o local, e
improvisam os textos ao vivo, podendo ocorrer, nestes casos, inclusive erros gramaticais,
devido à situação de improvisação”.
Nos primórdios do telejornalismo no Brasil, e mais especificamente no caso do Jornal
Nacional, quem escrevia o texto era o editor, mas depois que o apresentador Cid Moreira foi
substituído por um apresentador com formação jornalística, o próprio âncora passou a
escrever os textos das matérias, que eram revisados pelos editores. Através da entrevista
apresentada neste artigo, verifica-se que este procedimento é, ainda hoje, adotado nos
departamentos jornalísticos da Rede Globo.
O jornalista, denominado de “âncora”, é amplamente aproveitado, participando de todo o
processo de produção da notícia, desde a escolha da pauta, a apresentação, revisão e edição.
Os comentários de Armando Nogueira, apresentados nos quadros (3) e (4), nas páginas 8 e 9,
respectivamente, demonstram a preocupação do editor-chefe do Jornal Nacional com a
construção dos textos, exigindo dos jornalistas da época que seguissem à risca as regras
lingüísticas criadas para se atingir a linguagem adequada, segundo os parâmetros dos padrões
da Rede Globo.
Fica claro nas pesquisas realizadas, que o manual de telejornalismo, apesar de ser matéria
obrigatória nas faculdades de jornalismo, não é utilizado no dia-a-dia. Os jornalistas recebem,
através da Rede Globo, em horário de trabalho, aulas de língua portuguesa. Algumas regras
ainda são utilizadas, mas muitas foram abandonadas. As regras lingüísticas que deixaram de
ser usadas nos textos, principalmente dos jornalistas de externas, cujo tempo é mais curto,
são:”não iniciar frases com gerúndio, evitar o futuro do indicativo, não usar ênclise, não usar
o futuro do pretérito, não usar pronomes pessoais e evitar começar a matéria com números”.
No entanto, a editora de texto utiliza algumas regras para o texto do apresentador: “Jamais
começar frases com gerúndio, não usar mesóclise nem ênclise, preferindo a próclise e os
números devem ser escritos por extenso”.
O Jornal Nacional, de acordo com depoimentos colhidos na entrevista, é considerado, na
Rede Globo, como um “clássico”, ou seja, o jornal que apresenta a linguagem mais formal e
inserida nas regras de padronização estabelecidas, até mesmo pela pouca duração de cada
matéria, que tem aproximadamente um minuto. No entanto, alguns paradigmas têm sido
quebrados, citando como exemplo, as entrevistas com os candidatos às últimas eleições para
Presidente da República. Esta foi a primeira vez que se permitiu entrevistados na bancada do
Jornal Nacional. Outro paradigma quebrado com o casal Willian Bonner e Fátima Bernardes,
foi a possibilidade de um apresentador olhar para o outro, atitude até então, considerada
inadequada no JN.
Com relação à linguagem oral praticada no JN, afirma a jornalista Kiria: “Hoje o sotaque
praticado de maneira leve, que lembre a região de origem do repórter, tem sido aceito, pois
demonstra a diversidade cultural de um país tão extenso como o Brasil e enriquece a matéria,
porém o sotaque não deve interferir na comunicação da notícia. Os termos regionalistas não
são permitidos, já que necessitam de explicações sobre seu significado, e no Jornal Nacional
não há tempo hábil para tanto”.
Conclui-se que, em termos de comunicação, a busca da criatividade no texto televisivo é
um grande desafio, no qual se tenta a complementação entre texto e imagem, sempre com o
objetivo maior de comunicar da melhor maneira possível, com veracidade, imparcialidade e
clareza.

Referências

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SENRA, Stella. A Língua como Serviço. Imediartivismo, 2007. Disponível em
.Acesso em 06/10/2007.
BARATA, Germana et al, A língua na mídia, ed. N. 23, 2001. Disponível em
.Acesso em 04/10/2007.
Entrevistas
Com Kiria Meurer, por Barth, Tânia A N, na RBS TV, Florianópolis, 2007.
Com Margarida Santi, por Barth, Tânia A N, na RBS TV, Florianópolis, 2007.
Florianópolis, outubro de 2007

Resenha do filme: Encontrando Forrester


RESENHA DO FILME “ENCONTRANDO FORRESTER”
Tânia Ap. Neves Barth

(Finding Forrester)
ENCONTRANDO FORRESTER, Direção: Gus Van Sant, Roteiro: Mike Rich, EUA, 2000, 136 min., color.
Elenco:- Sean Connery, F. Murray Abraham, Anna Paquin, Robert Brown, Michael Nouri, April Grace, Matt Damon, Busta Rhymes.

INTRODUÇÃO:

ENCONTRANDO FORRESTER é um filme dirigido a leitores e amantes de literatura. O filme conta com a ótima atuação dos experientes Sean Connery (Forrester) e F. Murray Abraham ( professor Crawford), além do bom trabalho do estreante Robert Brown (Jamal).
Aqui a arte do cinema aborda o tema da arte de escrever, pontuado pelos conflitos pessoais dos personagens. O filme mostra que escrever, ao contrário do que muitos pensam, não é só fruto de uma “inspiração divina”, que flui de maneira natural e perfeita de quem nasceu com este dom, é também um trabalho árduo e que necessita técnica e treinamento.
O pano de fundo para este tema mostra os conflitos gerados pelos preconceitos racial e social, além do peso da crítica para um autor.

RESUMO:

O filme mostra os conflitos de um jovem negro de classe baixa chamado Jamal, que vive no Bronk e se destaca no meio acadêmico, tanto pela sua habilidade no basquete quanto pelo talento em escrever.
O rapaz recebe uma bolsa numa escola particular de Manhatan, bastante conceituada, onde passa a sofrer preconceito tanto dos alunos quanto do professor de literatura, que imagina ser o basquete seu único objetivo para se tornar bem sucedido e desconfia da autoria dos trabalhos por ele apresentados.
Paralelamente Jamal conhece William Forrester, um escritor que se tornou uma lenda e uma curiosidade no Bronk por viver recluso em seu apartamento, e uma importante referência no meio literário por ser um grande escritor, vencedor do premio Pulitzer, com uma só obra publicada em toda sua vida.
A partir daí, desenvolve-se uma amizade, onde mestre e discípulo trocam ensinamentos não só do ofício de escrever, mas de lições de vida.

RESENHA CRÍTICA:

“Primeiro se escreve com o coração, depois se reescreve com a cabeça” – Essa é a frase chave dos ensinamentos do escritor Forrester para seu pupilo, o jovem que aspira tornar-se um grande escritor.

Pobre, negro, talentoso e perseverante. Com este perfil, o personagem Jamal segue em busca da realização de seu sonho e tenta ultrapassar as barreiras do preconceito e da discriminação.

Este é o assunto que o diretor Gus Van Sant aborda em primeiro plano, logo nos primeiros trinta minutos do filme. O personagem que vive no Bronk com a mãe, e cujo pai morreu viciado em crak, encontra na escrita uma forma de dar vazão aos seus sentimentos. Num segundo momento, ao conhecer Forrester, Jamal projeta no escritor a figura paternal ao mesmo tempo que Forrester vê no pupilo um resgate de sua juventude. Orientador e pupilo transcendem esses papéis na medida em que a amizade entre eles se desenvolve.

Forrester, a figura mais intrigante do filme, é desvendado aos poucos. No início ele parece ser somente um velho rabugento e solitário, que vive recluso em seu apartamento num bairro de classe baixa, mas o diretor vai tirando camada por camada, as máscaras do personagem. Apesar de seu jeito agressivo, ele se deixa envolver pelo jovem que pede sua ajuda e que, por força do destino, torna-se uma ponte entre ele e seu passado, já que seu professor de literatura é um antigo desafeto de Forrester.

Neste ponto vê-se que a crítica teve um papel fundamental na vida profissional do escritor. Sua primeira obra, vencedora de um importante prêmio literário, e aclamada pela crítica e pelo meio acadêmico como “A obra do século”, tornou-se um peso na vida de Forrester, que passou a repudiar qualquer tipo de crítica já que, segundo ele, “os críticos falam o que acham que sabem, ao passo que o autor é quem sabe realmente o sentido de sua obra”. Segundo Jamal, o próprio professor Crawford analisa a literatura de Forrester relacionando o autor com o personagem central do livro, sugerindo que o autor fala de si, o que revolta Forrester por considerar tal afirmação uma opinião equivocada de um escritor frustrado. Forrester parece sentir-se invadido e desrespeitado, mesmo com a consagração pública de seu trabalho.Sua posição tornou-se tão radical, que o escritor impediu, no passado, a publicação de um livro de autoria do professor Crawford, que falava sobre ele e sua obra.

No caso de Forrester, a crítica parece ter sido o motivo de sua reclusão e de o escritor não ter publicado mais nenhuma obra. Na verdade, existem paralelos reais do personagem, ou seja, autores reclusos, avessos à divulgação de seu nome e às críticas, como por exemplo, Jerome David Salinger:

“Jerome David Salinger, o autor, é uma figura estranha. Nascido em 1919, desde sempre foi avesso à imprensa ou outras formas de divulgação da sua figura, tornando-se paranoicamente recluso. Ainda na época do lançamento de The Catcher in the Rye, na década de quarenta, fez o seu editor prometer que não lhe enviaria quaisquer críticas que fossem publicadas sobre o livro. Reclamou também que a sua foto na contra-capa estaria muito grande. Solicitou que não fosse feita qualquer publicidade do livro aludindo à sua pessoa, alegando que não queria correr o risco de acreditar no que leria.” ( Nemo Nox é editor do blog Por um Punhado de Pixels e do site http://www.burburinho.com/, onde este texto foi originalmente publicado).

Apesar da posição do personagem, Forrester mostra-se apaixonado pela arte da escrita, que para ele é um ofício a ser dominado e que exige técnicas, que o escritor passa ao orientando, tais como: “escrever o que lhe vem à cabeça, sem pensar”, ou “copiar um texto e deixar que as próprias palavras surjam naturalmente e dêem início à criação literária”.

Num terceiro momento, o diretor aborda o aprendizado como uma troca, quando o mestre se apresenta na escola de Jamal para fazer a leitura de seu texto, demonstrando humildade e respeito pelo jovem escritor. Forrester reconhece que o rapaz, apesar de correr o risco de perder a bolsa e ser acusado de plágio, respeitou o pedido do amigo de não revelar a relação entre ambos.
Forrester agora já não é mais o mestre, seu pupilo está pronto, tanto que o escritor, após sua morte, deixa para o rapaz um manuscrito inédito, com a orientação de que o prefácio seja escrito por Jamal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

O tema do filme leva à reflexão sobre o papel dos meios acadêmicos na vida prática das pessoas, já que o mesmo retrata a escola como uma instituição um tanto viciada, submetida a regras e conceitos que nem sempre se aplicam ao dia-a-dia dos alunos. Não deveria ser a escola um ambiente de trocas de conhecimentos entre alunos e professores, possibilitando que a aprendizagem se dê através de estímulos, pela interação e pela curiosidade? O filme demonstra claramente o engessamento das instituições e as limitações do professor Crawford devido a seus preconceitos, e a dificuldade de aceitação do “diferente”, trabalhando a educação de cima para baixo, através de uma hierarquia que não permite aos educandos uma participação ativa no aprendizado.
Os tabus certamente são difíceis de serem rompidos, e isto fica claro não só na trama, mas também no trabalho do diretor que, no romance entre Jamal e Anna, sua namorada branca e rica, não se permite mostrar um só beijo entre eles, apenas toques de mãos. Bastante inverosímil, em se tratando de dois jovens adolescentes e apaixonados...

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

TEIXEIRA, Ivan. Anatomia do crítico. In: Revista Cult.
WILLEMART, Phillipe. Paradigmas de um crítico. In: Revista Caros Amigos.
MACHADO, Luis Almeida. O cinema na escola. In: Site Planeta Educação.
ARONOVICH, Lola. Perto do Forrest, longe do Gump. In: Site Escreva Lola, Escreva.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Comunicação Corporativa: Língua Portuguesa

A LÍNGUA PORTUGUESA NA COMUNICAÇÃO CORPORATIVA

Tania Neves

A língua portuguesa nunca foi tão comentada e discutida como agora. O novo acordo ortográfico tem, em parte, contribuído para esse fato. No entanto, o que se nota é que o aumento e a disseminação de novos meios de comunicação têm levado empresas e profissionais de todas as áreas a buscarem aperfeiçoamento no uso das palavras. Reuniões, apresentações, e.mails, mala direta, marketing, relacionamento com o cliente, enfim, a necessidade cada vez maior de troca de informações e de comunicação com o cliente exigem que o brasileiro seja um “poliglota em sua própria língua”, conforme afirma o professor Pasquale.
Para existir profissionalmente, qualquer cidadão deve saber utilizar a linguagem coloquial e a linguagem formal. Ter o domínio dessas duas modalidades de comunicação em português pode ser decisivo no desenvolvimento profissional ou até mesmo para o acesso a uma vaga pretendida. Testes envolvendo conhecimento de língua portuguesa estão presentes em todos os processos de admissão, independente da área de atuação.
Uma comunicação via e.mail, por exemplo, que se apresentar confusa e com erros de ortografia e concordância, certamente provocará péssima impressão ao receptor, podendo acarretar situações desagradáveis para o funcionário junto à chefia.
Cada profissão possui necessidades específicas no uso da língua portuguesa. O médico necessita escrever laudos, os advogados, petições, o engenheiro, relatórios. Seja qual for a profissão exercida ou a área de atuação, o domínio das regras do idioma é fundamental.
Já para as empresas, a comunicação com o cliente é fator determinante para sua durabilidade no mercado. A concorrência torna-se cada vez mais acirrada e os consumidores mais exigentes. A variedade de ofertas de serviços e produtos resulta na necessidade de a empresa comunicar-se de forma clara e objetiva, seja na prospecção de novos clientes ou na busca de fidelidade dos já existentes.
A comunicação nunca foi tão dinâmica e intensa como atualmente, portanto, conhecer a própria língua e ter o domínio do idioma oficial é um dos fatores determinantes do sucesso profissional ou empresarial.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Mobile Movie

Há algum tempo passei a pesquisar e experimentar formas alternativas de produção de audiovisual. Produzi um clipe captando imagens com meu celular, depois passei a gravar algumas viagens de férias. Batizei de “Dicas de viagens”. Em viagens para o Chile, Argentina e New York, continuei minha saga de micro-produtora. Levei comigo uma filmadora Samsumg Mini-DV e intercalei imagens da filmadora e do celular. Essas ainda estão por editar. Em meu canal, no youtube, é possível assistir minhas produções.
Bem… essa história, na verdade, começou em São Paulo, há alguns anos, quando tive a oportunidade de produzir e apresentar meu próprio programa de TV, veiculado pelo Canal 21, da Rede Bandeirantes de Televisão. O nome do programa era “Pra Lá de Bom” e a linha editorial era de cultura e entretenimento. Uma maravilha, eu adorava fazer esse trabalho!
Minha experiência até então tinha sido no teatro. Eu já havia escrito algumas peças, produzido, dirigido e atuado. Muito bom o teatro, nos aproxima muito da humanidade, do que é verdadeiramente ser-humano. Nossas virtudes e fraquezas são esmiuçadas. Não é fácil para o ator, ou a atriz, incorporar uma personagem. A exposição é muito grande, temos nossos limites, que devem ser vencidos para que se abra espaço para outra vida. Essa outra vida nem sempre é bem-vinda pelo nosso inconsciente, nem sempre é facilmente aceita. A personagem pode ter valores opostos ao nosso, vivência distante da nossa, no entanto, temos que ceder, temos que nos submeter e permitir que aquela outra alma se aposse de nosso corpo. Esse trabalho tem uma magia que é difícil de explicar. Ser ator é despir-se em público, é dar a cara a bater, é aceitar humildemente todo tipo de julgamentos.
Voltando aos ”mobile-movies”, aí está o link para o curta que produzi, com alguns colegas. Foi numa oficina de Micro-Cinema do FAM (Festival de Audiovisual do Mercosul). O tema é uma reflexão sobre aqueles trabalhadores que são praticamente invisíveis para os passantes, porém, prestam serviços imprescindíveis para todos nós. Será que eles sentem-se invisíveis?
Assista ao curta e descubra, clique no link abaixo:
Curta Metragem – Invisíveis

Carreira musical










segunda-feira, 20 de julho de 2009

Carreira musical


A música e o teatro são parte de minha história. Cantar é interpretar um texto que, no caso, é a letra emoldurada por uma melodia. Tenho comigo a crença de que a música é o canal de contato com Deus, ou com a força do Amor Universal, ou com o Cosmos, como queira. Ela me leva a um outro patamar, um outro lugar. Esse lugar é o mais profundo que posso chegar de mim mesma, é a solidão total da comunhão com minha essência. Cantar é uma magia, uma forte magia.

Alguns trabalhos em teatro


MAMÃE NATURA: Primeiro musical de autoria de Tania Brazil. Inovação na linguagem de teatro infantil, unindo música ao vivo com teatro, convidando o público a interagir. Foi um sucesso, viajamos pelo Estado de São Paulo com esse musical. Na época, pouco se falava de consciência ambiental, mas as crianças adoravam e participavam ativamente.












GATONÇA: Outra peça infantil, de minha autoria, com músicas de Chico Buarque, Milton Nascimento e outros. O tema central da peça é a questão das diferenças raciais. Na peça, uma onça, que é filha de uma onça com um gato, apaixona-se por um gato negro. Ela própria sofre discriminação por ser mestiça, então, parte em busca do Cálice da Sabedoria, que encontra-se bem distante, na Montanha da Verdade. Uma aventura que traz à tona todos os conflitos e armadilhas do preconceito racial.


ROSA DO ASFALTO: Primeira direção de uma peça não-autoral que fiz. Texto difícil, monólogo, drama. Imagine a “bucha” que peguei! Mas Elizeu, autor da peça e meu amigo, me convenceu a entrar nessa. Trabalhamos muito para deixar a peça redonda, mas valeu a pena. Rosa do Asfalto fala de um rapaz, filho único que, voltando do enterro de sua mãe, entra numa difícil viagem interior, repassando todas as dores e as alegrias de sua relação com a mãe. Ficou denso, mas bonito.



Meu encontro com a música

Num determinado momento de minha vida, a música me descobriu. Dizem que é a música que nos escolhe, ela entra na sua veia e nunca mais sai. Só sei que ela chegou num momento muito difícil. Acredito firmemente que a música foi uma bênção que recebi, uma ajuda e tanto dos céus! Eu passava por um momento muito difícil e, graças a ela, minha alma foi lavada, entrei numa sintonia de prazer de viver, em comunhão com Deus. Nada de religião. Espiritualidade pura, sem intermediários! Além disso, foi dela que tirei meu sustento por mais de seis anos. Aprendi tanto nesse tempo, conheci tantas pessoas diferentes, vi tanta coisa. Adquiri uma visão e experiência de vida que só quem já viajou mostrando sua arte pode entender. Sinto-me muito rica.
Descobri, cantando em bares, que a noite abriga um outro Universo. As pessoas que encontramos circulando durante o dia transformam-se à noite. Os sentimentos ficam mais explícitos. Os sonhos vêm à tona, a máscara cai…
Tudo é possível!
Vivi intensamente a música, aliás, praticamente só vivia para ela. Havia dias em que eu cantava em dois turnos, afinal, precisava aproveitar a boa maré. Viver de música é assim: às vezes você tem agenda cheia, de repente, abre-se um vácuo. E as contas continuam chegando.
Aprendi a unir técnicas holísticas com música e utilizá-la como terapia. Nosso corpo tem ritmo, tem seu tempo. Ninguém conseguiria viver sem a música, enlouqueceríamos! Para cantar é necessário o relaxamento do corpo, a harmonia com o Cosmos, temos que aprender a doar energia, expor sentimentos, emocionar. Passei a aplicar, através do canto, tudo o que aprendi e que tanto bem me fez, ensinando Canto para quem busca equilíbrio mental e espiritual. O objetivo não é virar cantor(a) profissional, mas entrar em sintonia com o Universo através da música.
Seguindo minha caminhada pelos acordes, adquiri outra paixão: a imagem em movimento. Unir música e vídeo é o máximo.
Produzi, então, o primeiro clipe de uma música de minha autoria: Noite. Resolvi pesquisar e experimentar a criação artística em vídeo através de recursos populares. Captei as imagens com meu celular, depois editei em casa mesmo, com o videomaker. Foi uma experiência que, considero, deu certo. É claro que não é uma superprodução, mas é honesta, eu diria até, artesanal. Meu clipe já foi exibido pelo Canal 20 de Florianópolis e será veiculado por três programas de TV de canais a cabo de Nova York. Estou bem contente.
Clique no link abaixo para ver o clipe. Deixe seu comentário e… até breve.
Noite – Música de Tania Brazil

Sobre este espaço

Seja bem-vindo.
Todos temos algo a dizer. Às vezes falamos com palavras, às vezes com música, às vezes com imagens, ou até mesmo com gestos. Deixamos nossa impressão em várias formas de expressão.
Meus cantares expressam o que meu olhar me mostra e o que meu coração me diz. Meus contares abrem as portas da fantasia e do imaginário.
Quanto melhor conseguimos nos comunicar, melhor conseguimos viver. Transformamos, assim, nossa existência em algo prazeroso.
Amo a vida e a ela dedico tudo o que faço. Agradeço aos meus antepassados, que me possibilitaram estar aqui. Agradeço por minha existência, por minhas dores, amores, risos e lágrimas. Tudo isso é fantástico!
O conhecimento deve fluir entre as pessoas,ser trocado, ou não será conhecimento. Cada um tem sua própria experiência de vida, seu tesouro pessoal. No entanto, esse tesouro só tem valor se for partilhado, se puder beneficiar a humanidade, afinal, todos nós, individualmente e como um todo, fazemos a diferença!
Tania Neves