quinta-feira, 23 de julho de 2009
Resenha do filme: Encontrando Forrester
RESENHA DO FILME “ENCONTRANDO FORRESTER”
Tânia Ap. Neves Barth
(Finding Forrester)
ENCONTRANDO FORRESTER, Direção: Gus Van Sant, Roteiro: Mike Rich, EUA, 2000, 136 min., color.
Elenco:- Sean Connery, F. Murray Abraham, Anna Paquin, Robert Brown, Michael Nouri, April Grace, Matt Damon, Busta Rhymes.
INTRODUÇÃO:
ENCONTRANDO FORRESTER é um filme dirigido a leitores e amantes de literatura. O filme conta com a ótima atuação dos experientes Sean Connery (Forrester) e F. Murray Abraham ( professor Crawford), além do bom trabalho do estreante Robert Brown (Jamal).
Aqui a arte do cinema aborda o tema da arte de escrever, pontuado pelos conflitos pessoais dos personagens. O filme mostra que escrever, ao contrário do que muitos pensam, não é só fruto de uma “inspiração divina”, que flui de maneira natural e perfeita de quem nasceu com este dom, é também um trabalho árduo e que necessita técnica e treinamento.
O pano de fundo para este tema mostra os conflitos gerados pelos preconceitos racial e social, além do peso da crítica para um autor.
RESUMO:
O filme mostra os conflitos de um jovem negro de classe baixa chamado Jamal, que vive no Bronk e se destaca no meio acadêmico, tanto pela sua habilidade no basquete quanto pelo talento em escrever.
O rapaz recebe uma bolsa numa escola particular de Manhatan, bastante conceituada, onde passa a sofrer preconceito tanto dos alunos quanto do professor de literatura, que imagina ser o basquete seu único objetivo para se tornar bem sucedido e desconfia da autoria dos trabalhos por ele apresentados.
Paralelamente Jamal conhece William Forrester, um escritor que se tornou uma lenda e uma curiosidade no Bronk por viver recluso em seu apartamento, e uma importante referência no meio literário por ser um grande escritor, vencedor do premio Pulitzer, com uma só obra publicada em toda sua vida.
A partir daí, desenvolve-se uma amizade, onde mestre e discípulo trocam ensinamentos não só do ofício de escrever, mas de lições de vida.
RESENHA CRÍTICA:
“Primeiro se escreve com o coração, depois se reescreve com a cabeça” – Essa é a frase chave dos ensinamentos do escritor Forrester para seu pupilo, o jovem que aspira tornar-se um grande escritor.
Pobre, negro, talentoso e perseverante. Com este perfil, o personagem Jamal segue em busca da realização de seu sonho e tenta ultrapassar as barreiras do preconceito e da discriminação.
Este é o assunto que o diretor Gus Van Sant aborda em primeiro plano, logo nos primeiros trinta minutos do filme. O personagem que vive no Bronk com a mãe, e cujo pai morreu viciado em crak, encontra na escrita uma forma de dar vazão aos seus sentimentos. Num segundo momento, ao conhecer Forrester, Jamal projeta no escritor a figura paternal ao mesmo tempo que Forrester vê no pupilo um resgate de sua juventude. Orientador e pupilo transcendem esses papéis na medida em que a amizade entre eles se desenvolve.
Forrester, a figura mais intrigante do filme, é desvendado aos poucos. No início ele parece ser somente um velho rabugento e solitário, que vive recluso em seu apartamento num bairro de classe baixa, mas o diretor vai tirando camada por camada, as máscaras do personagem. Apesar de seu jeito agressivo, ele se deixa envolver pelo jovem que pede sua ajuda e que, por força do destino, torna-se uma ponte entre ele e seu passado, já que seu professor de literatura é um antigo desafeto de Forrester.
Neste ponto vê-se que a crítica teve um papel fundamental na vida profissional do escritor. Sua primeira obra, vencedora de um importante prêmio literário, e aclamada pela crítica e pelo meio acadêmico como “A obra do século”, tornou-se um peso na vida de Forrester, que passou a repudiar qualquer tipo de crítica já que, segundo ele, “os críticos falam o que acham que sabem, ao passo que o autor é quem sabe realmente o sentido de sua obra”. Segundo Jamal, o próprio professor Crawford analisa a literatura de Forrester relacionando o autor com o personagem central do livro, sugerindo que o autor fala de si, o que revolta Forrester por considerar tal afirmação uma opinião equivocada de um escritor frustrado. Forrester parece sentir-se invadido e desrespeitado, mesmo com a consagração pública de seu trabalho.Sua posição tornou-se tão radical, que o escritor impediu, no passado, a publicação de um livro de autoria do professor Crawford, que falava sobre ele e sua obra.
No caso de Forrester, a crítica parece ter sido o motivo de sua reclusão e de o escritor não ter publicado mais nenhuma obra. Na verdade, existem paralelos reais do personagem, ou seja, autores reclusos, avessos à divulgação de seu nome e às críticas, como por exemplo, Jerome David Salinger:
“Jerome David Salinger, o autor, é uma figura estranha. Nascido em 1919, desde sempre foi avesso à imprensa ou outras formas de divulgação da sua figura, tornando-se paranoicamente recluso. Ainda na época do lançamento de The Catcher in the Rye, na década de quarenta, fez o seu editor prometer que não lhe enviaria quaisquer críticas que fossem publicadas sobre o livro. Reclamou também que a sua foto na contra-capa estaria muito grande. Solicitou que não fosse feita qualquer publicidade do livro aludindo à sua pessoa, alegando que não queria correr o risco de acreditar no que leria.” ( Nemo Nox é editor do blog Por um Punhado de Pixels e do site http://www.burburinho.com/, onde este texto foi originalmente publicado).
Apesar da posição do personagem, Forrester mostra-se apaixonado pela arte da escrita, que para ele é um ofício a ser dominado e que exige técnicas, que o escritor passa ao orientando, tais como: “escrever o que lhe vem à cabeça, sem pensar”, ou “copiar um texto e deixar que as próprias palavras surjam naturalmente e dêem início à criação literária”.
Num terceiro momento, o diretor aborda o aprendizado como uma troca, quando o mestre se apresenta na escola de Jamal para fazer a leitura de seu texto, demonstrando humildade e respeito pelo jovem escritor. Forrester reconhece que o rapaz, apesar de correr o risco de perder a bolsa e ser acusado de plágio, respeitou o pedido do amigo de não revelar a relação entre ambos.
Forrester agora já não é mais o mestre, seu pupilo está pronto, tanto que o escritor, após sua morte, deixa para o rapaz um manuscrito inédito, com a orientação de que o prefácio seja escrito por Jamal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
O tema do filme leva à reflexão sobre o papel dos meios acadêmicos na vida prática das pessoas, já que o mesmo retrata a escola como uma instituição um tanto viciada, submetida a regras e conceitos que nem sempre se aplicam ao dia-a-dia dos alunos. Não deveria ser a escola um ambiente de trocas de conhecimentos entre alunos e professores, possibilitando que a aprendizagem se dê através de estímulos, pela interação e pela curiosidade? O filme demonstra claramente o engessamento das instituições e as limitações do professor Crawford devido a seus preconceitos, e a dificuldade de aceitação do “diferente”, trabalhando a educação de cima para baixo, através de uma hierarquia que não permite aos educandos uma participação ativa no aprendizado.
Os tabus certamente são difíceis de serem rompidos, e isto fica claro não só na trama, mas também no trabalho do diretor que, no romance entre Jamal e Anna, sua namorada branca e rica, não se permite mostrar um só beijo entre eles, apenas toques de mãos. Bastante inverosímil, em se tratando de dois jovens adolescentes e apaixonados...
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
TEIXEIRA, Ivan. Anatomia do crítico. In: Revista Cult.
WILLEMART, Phillipe. Paradigmas de um crítico. In: Revista Caros Amigos.
MACHADO, Luis Almeida. O cinema na escola. In: Site Planeta Educação.
ARONOVICH, Lola. Perto do Forrest, longe do Gump. In: Site Escreva Lola, Escreva.
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Olá! Tânia,
ResponderExcluirAchei muito legal tua resenha. Também utilizo este filme desde 2003 nas minhas aulas de produção textual e os alunos sentem-se muito motivados. Voce pode indicar outros nessa linha?
Ione Dolzane
Olá Ione. Obrigada, fico feliz que minha resenha a tenha ajudado com seus alunos. Tentarei escrever outras, mas no momento estou na Itália cumprindo agenda de cursos e palestras. Voltarei para o Brasil em agosto, então espero ter mais tempo para escrever. Caso queira colaborar com algum texto seu, envie para meu e.mail: educartebrasil@gmail.com. Terei prazer em publicá-lo. Abraço^.
ExcluirA história é bela e desperta uma vontade de não desistir dos sonhos nem se fechar ante as agressões da vida. Um pouco poético talvez.
ResponderExcluirTambém acho a história bela, mas acredito que não desistir dos sonhos nos ajude a conquistar realizações de fato. Abraço. Profa. Tânia.
Excluirqual foi o motivo do personagem jamal além de jogar basquete ter resolvido a escrever?
ResponderExcluirEntendi que foi, além do fato de ele ter um talento nato, uma forma que encontrou para expressar seus sentimentos, já que vivia num meio social cujas relações pessoais eram muito difíceis.
Excluircurtir muito essa resenha.
ResponderExcluirObrigada! Tentarei publicar mais resenhas. Espero que o blog te ajude em outros assuntos.
ResponderExcluirProfa. Tânia
adorei a resenha, o filme é otimo, sua resenha me ajudou na construção da minha para a faculdade.. Obrigada..
ResponderExcluirOlá,gostei muito da resenha.Só gostaria de chamar a atenção para a trilha sonora do filme.
ResponderExcluirAbraço.
Rogerio