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terça-feira, 4 de agosto de 2009

Lembra do Renan?

A COLETIVA DA MONICA

Tânia Neves e Adriano Salvi

Expectativa, suspense, sussurros e burburinhos... a sala estava lotada de jornalistas, que para ganhar o pão de cada dia esperavam horas (ela estava atrasada) para ouvir o que a ex-colega tinha a dizer. Enquanto esperavam, alguns comentavam que a conheciam dos tempos das “vacas magras”, quando ela, assim como eles, espremia-se e acotovelava os concorrentes, fazendo de tudo para chegar mais perto do alvo, tentando conseguir uma informação importante e, quem sabe com sorte, um “furo”. Uma dessas ex-colegas, olhando por cima dos óculos para leitura comprados em farmácia, dizia:
--Parece que ela conseguiu chegar bem perto do “furo”, hein?
Enquanto o outro, com uma coxinha de galinha na boca, tentava fazer uma piadinha:
-- Mas quem acabou “furada” foi ela... – disse ele, esboçando um sorriso galináceo, que não foi correspondido.
-- Essa aí foi esperta... e peituda. Tem que ter coragem pra fazer o que ela fez.
-- Coragem e outras “cositas más”. – disse outro, aproximando-se da mesa de salgadinhos que haviam preparado para distrair os jornalistas, enquanto esperavam.
A expectativa era realmente grande, já que a mulher que convocara a coletiva, depois de armar toda a confusão, tinha sumido de cena. Alguns achavam que ela estava com medo, talvez até estivesse sendo ameaçada, já que a fama dos alagoanos era de que costumavam “riscar a faca” para resolver as pendengas. Outros diziam que talvez ela tivesse recebido um “cala-te boca” bem gordo para parar de tagarelar, ou até que a mulher do senador ”tinha ameaçado arrancar o silicone da outra a dentadas”. A verdade é que Mônica Veloso, a quem costumo me referir pela alcunha carinhosa de “Mônica Vacoso”, devido ao argumento do senador, que teria vendido cabeças de gado para engordar a pensão da amante, provocou um estardalhaço no Senado. A moça parecia não se contentar em ser apenas a amante secreta do Presidente do Senado, e receber míseros doze mil reais por mês, por conta de seu rebento. O anonimato parecia não fazer parte de seus planos, afinal, tanto de seu suor correu (na academia...), tantos cosméticos importados, botox, silicone, Restilene... tudo isso para quê? O Brasil precisava ver que baita amante o Senador perdeu. E perdeu porque era “mão-de vaca”... (ôpa, voltamos aos ruminantes), afinal, a mixaria de doze mil reais por mês mal dá para sustentar o cirurgião e o cabeleireiro, quanto menos uma filha, uma "bênção de Deus"... No entanto, lá estava ela novamente, em cena. Depois do retiro, convocou a imprensa e fez mistério sobre o assunto. A moça, não se pode negar, aprendeu direitinho com suas antecessoras - amantes, secretárias, ex-mulheres e afins - ávidas pela fama e verdadeiras “divas” do marketing pessoal. Todos os jornalistas presentes, representantes dos veículos de mídia mais importantes do país estavam ansiosos pelo que parecia ser uma “bomba”. Especulavam se a moça apresentaria alguma prova irrefutável do envolvimento do Senador em negócios ilícitos... afinal, a companheira de alcova do Senador criador de vacas, devia saber muito mais do que sonha a vã filosofia da plebe mortal, pagadora de impostos. Bem, finalmente o suspense parecia ter chegado ao fim, o advogado de bolso da moça apareceu anunciando que ela chegara e estaria entre eles em alguns minutos. Os jornalistas respiraram aliviados, afinal, eram duas horas de atraso, os salgadinhos (os que sobraram) já estavam frios e as piadinhas esgotadas...


De repente, entra a moça. Óculos escuros, tailler bem cortado, sapato de salto e bico fino, cabelo impecável, muito elegante. Os jornalistas que já não agüentavam mais tanto frufru, começaram logo as perguntas:
-- Mônica, qual foi o motivo dessa coletiva? Você teria alguma informação sobre o caso do Senador? Perguntou logo um.
Mas para decepção de uns e desespero de outros, o motivo da coletiva era nada mais, nada menos, que a divulgação das fotos que fez para a Playboy. Tudo bem, não deixa de ser notícia, e tem muito otário que vai dar uma força, comprando a revista.
"Inclusive", disse a moça, "O Zé Erinaldo, da banca do Congresso me disse que o pessoal está ansioso esperando a revista sair, ele acha que vende no mínimo uns noventa exemplares, já no primeiro dia". Enquanto falava, as imagens da “Mãe do Ano”, em poses nada maternais, eram exibidas num telão instalado ao lado da mesa. Uma jornalista imediatamente lembrou-se de sua viagem a São Luis do Maranhão, onde os açougues costumam expor as carnes penduradas na fachada, ao ar livre, prestigiadas por felizes moscas.. Sentiu que os salgadinhos queriam voltar, mas conseguiu contê-los.
-- Com o tempo você acaba acostumando - acalmou um colega mais escolado. E para finalizar com chave de ouro, a "teúda e manteúda" do Senador, diante da insistência de alguns jornalistas em fazer perguntas sobre escândalos, corrupção e lobistas, veio com a máxima:
-- Se pequei, pequei por amar demais...
Aí os salgadinhos no estômago da jornalista criaram vida própria.

Será que todo lobo é mau?

A HISTÓRIA DO LOBO MAU
Tânia A. Neves Barth

Era uma vez um lobinho que vivia feliz com sua mãe e seus irmãos. Sua vida era muito feliz, ele passava o dia a brincar com os irmãozinhos enquanto sua mãe saía para buscar comida, e quando ela chegava com o almoço, era aquela festa. Um belo dia, sua mãe não voltou. O lobinho e seus irmãos esperaram, esperaram e nada... A noite caiu, os lobinhos ficaram com muito medo e tremendo de frio, até que a coruja veio dar a notícia: Sua mãe fora caçada por um homem mau e estava morta. Os lobinhos teriam que sair pelo mundo e procurarem seus próprios alimentos. O lobinho se despediu dos irmãos e seguiu seu caminho. Andou, andou, até que chegou a uma floresta muito bonita e intocada, cheia de animais e frutas, que o lobinho adorava comer. Com o passar dos anos, pessoas foram construindo casas bem próximas à floresta. O lobinho foi crescendo e vivia feliz, porém, de tanto os caçadores matarem os animais, o lobo, que já era um jovem, foi ficando cada vez mais sem ter o que caçar. A vida do lobo ficava cada dia mais difícil, mas ele não tinha para onde ir, pois se tentava se aproximar das casas, procurando algum alimento, os homens ficavam muito bravos e tentavam mata-lo. Ele não entendia porque os homens podiam invadir sua floresta, mas ele não podia nem sequer se aproximar da casa deles, afinal, ele também precisava sobreviver...O lobo tornou-se adulto e a coisa ficava cada dia pior, pois além de quase não ter mais o que caçar, ele tinha que viver fugindo das pessoas que apareciam na floresta, muitas para caçar os poucos animais que restaram, só por diversão. Um belo dia, o lobo deu de cara com uma menina que vestia uma estranha capa vermelha e trazia uma cesta de piquenique nas mãos. O lobo, de início, levou um susto e pensou em fugir, mas a menina puxou conversa e parecia não estar com aquela coisa que cuspia fogo. A menina disse ao lobo que era filha do caçador e que estava perdida. Queria chegar à casa da avó que estava doente, mas ao pegar um atalho havia se perdido na floresta. Ela explicou como era a casa da avó e o lobo logo se lembrou onde ficava. Ele explicou para a menina como chegar lá, ela agradeceu e foi embora. O lobo, com o estômago roncando, voltou para dentro da floresta, tentando achar algo para comer. Foi quando ouviu um estouro, seguido de um zunido no ouvido... logo percebeu que o caçador perto e que tentou abate-lo sem mais nem menos. O lobo correu, mas estava magro e faminto e o caçador tinha cães que latiam bem alto e estavam bem alimentados. Um deles alcançou o lobo e lhe deu uma bela mordida na perna, mas felizmente o lobo conseguiu escapar. Exausto, no limite de suas forças, entrou num rio que passava perto e se deixou levar pela correnteza. Enquanto lutava pela vida, o lobo pensava porque o caçador queria matá-lo, já que ele tinha tanta comida em sua casa, não precisava matar o lobo para se alimentar, então porque fazer tamanha maldade? Pois se ele, o lobo, um animal selvagem, não fez mal algum à filha do caçador quando a encontrou, até a ajudou a achar o caminho da casa da avó! Finalmente o lobo não ouvia mais os latidos e nadou até a margem. Seu estômago doía de fome, seu machucado doía de dor e seu coração doía de indignação. O lobo avistou uma casa e resolveu entrar, lá devia haver algo para comer, e o lobo não agüentava mais de fome, nem conseguia pensar direito. Assim que entrou, percebeu que estava na casa da avó da menina, e que ela não estava em casa, então o lobo comeu o que encontrou e deitou-se um pouco na cama da velhinha para descansar. De repente ele ouviu um barulho na porta. Em seguida ouviu a voz conhecida da menina da capa vermelha, chamando: - Vovó! O lobo ficou assustado, pegou a touca e a camisola da avó que estavam em cima da cama e vestiu rapidamente. A garota, que era meio míope, nem notou a diferença. Sentou-se na cama e começou a conversar com o lobo, pensando que era a avó. De repente, aproximando-se mais do lobo, perguntou:
- Vovó, porque a senhora está com essas orelhas tão grandes? - E o lobo respondeu:
- É para te ouvir melhor, querida. - A menina perguntou ainda:
- Vovó, e por que seus olhos estão tão grandes?
- É para te ver melhor, querida. - Respondeu o lobo.
- E essa boca tão grande? O lobo pensou um pouco com seus botões: “Essa é a chance de me vingar dessas pessoas que invadem a minha floresta e matam todos os animais. Afinal, o pai dessa menina que eu havia ajudado quando estava perdida, tentou me matar, sem a menor piedade... agora ele é quem vai ver uma coisa”... e respondeu, mostrando bem os dentes:
- É para te comer!!!
A menina levou um tremendo susto quando percebeu que era o lobo quem estava ali, tentou sair correndo, mas foi agarrada pelo lobo, já pronto para devora-la. Foi quando a vovó chegou e, vendo aquela cena, implorou chorando ao lobo, que a devorasse no lugar da neta. A vovó disse ao lobo que a neta não tinha feito nada de mal a ele, mas que se ele quisesse mesmo se vingar, acabasse com ela e poupasse sua querida neta, pois ela era a mãe do caçador que tentara mata-lo. O lobo, vendo o desespero daquela senhora, tão frágil e delicada, percebeu que a vingança não resolveria seu problema, não impediria que o caçador matasse outros animais e também não faria o lobo sentir-se melhor. O lobo pediu desculpas à vovó e à menina, contou tudo o que vinha passando, e que se sentia solitário e perdido, já que seus amigos foram todos mortos pelo caçador. A vovó ficou emocionada e penalizada com a situação do lobo e propôs que ficassem amigos, ele poderia vir almoçar e jantar todos os dias com ela, seriam amigos e fariam companhia um para o outro, já que ela também vivia sozinha. Ela contou ao lobo que, como era já bem velha, seu filho, o caçador, não tinha muita paciência com ela, então ela preferiu morar ali sozinha, e a única pessoa que a visitava era a netinha querida. De repente, eles ouviram o latido dos cães, que farejaram o cheiro do lobo. A velhinha pegou a cesta que a neta lhe trouxe, deu ao lobo e disse:
- Tome isto para passar alguns dias até tudo se acalmar. Mas não se esqueça, de agora em diante somos bons amigos e espero você para as refeições. Agora fuja, meu amigo, que se meu filho te pega aqui, você virará troféu de parede! O lobo disse adeus à velhinha e à menina e partiu, sumindo na floresta.
Desde então, ouve-se uma história maluca, espalhada pelo caçador, de que o lobo comeu a vovó e atacou a menina, mas felizmente o caçador havia chegado a tempo de salvar a filha e ainda por cima abrir a barriga do lobo, retirando sua mãe vivinha da silva lá de dentro. A partir de então, todos passaram a ter medo do tal do “Lobo Mau” que vivia escondido na floresta.
Florianópolis, 06/11/2007