A COLETIVA DA MONICA
Tânia Neves e Adriano Salvi
Expectativa, suspense, sussurros e burburinhos... a sala estava lotada de jornalistas, que para ganhar o pão de cada dia esperavam horas (ela estava atrasada) para ouvir o que a ex-colega tinha a dizer. Enquanto esperavam, alguns comentavam que a conheciam dos tempos das “vacas magras”, quando ela, assim como eles, espremia-se e acotovelava os concorrentes, fazendo de tudo para chegar mais perto do alvo, tentando conseguir uma informação importante e, quem sabe com sorte, um “furo”. Uma dessas ex-colegas, olhando por cima dos óculos para leitura comprados em farmácia, dizia:
--Parece que ela conseguiu chegar bem perto do “furo”, hein?
Enquanto o outro, com uma coxinha de galinha na boca, tentava fazer uma piadinha:
-- Mas quem acabou “furada” foi ela... – disse ele, esboçando um sorriso galináceo, que não foi correspondido.
-- Essa aí foi esperta... e peituda. Tem que ter coragem pra fazer o que ela fez.
-- Coragem e outras “cositas más”. – disse outro, aproximando-se da mesa de salgadinhos que haviam preparado para distrair os jornalistas, enquanto esperavam.
A expectativa era realmente grande, já que a mulher que convocara a coletiva, depois de armar toda a confusão, tinha sumido de cena. Alguns achavam que ela estava com medo, talvez até estivesse sendo ameaçada, já que a fama dos alagoanos era de que costumavam “riscar a faca” para resolver as pendengas. Outros diziam que talvez ela tivesse recebido um “cala-te boca” bem gordo para parar de tagarelar, ou até que a mulher do senador ”tinha ameaçado arrancar o silicone da outra a dentadas”. A verdade é que Mônica Veloso, a quem costumo me referir pela alcunha carinhosa de “Mônica Vacoso”, devido ao argumento do senador, que teria vendido cabeças de gado para engordar a pensão da amante, provocou um estardalhaço no Senado. A moça parecia não se contentar em ser apenas a amante secreta do Presidente do Senado, e receber míseros doze mil reais por mês, por conta de seu rebento. O anonimato parecia não fazer parte de seus planos, afinal, tanto de seu suor correu (na academia...), tantos cosméticos importados, botox, silicone, Restilene... tudo isso para quê? O Brasil precisava ver que baita amante o Senador perdeu. E perdeu porque era “mão-de vaca”... (ôpa, voltamos aos ruminantes), afinal, a mixaria de doze mil reais por mês mal dá para sustentar o cirurgião e o cabeleireiro, quanto menos uma filha, uma "bênção de Deus"... No entanto, lá estava ela novamente, em cena. Depois do retiro, convocou a imprensa e fez mistério sobre o assunto. A moça, não se pode negar, aprendeu direitinho com suas antecessoras - amantes, secretárias, ex-mulheres e afins - ávidas pela fama e verdadeiras “divas” do marketing pessoal. Todos os jornalistas presentes, representantes dos veículos de mídia mais importantes do país estavam ansiosos pelo que parecia ser uma “bomba”. Especulavam se a moça apresentaria alguma prova irrefutável do envolvimento do Senador em negócios ilícitos... afinal, a companheira de alcova do Senador criador de vacas, devia saber muito mais do que sonha a vã filosofia da plebe mortal, pagadora de impostos. Bem, finalmente o suspense parecia ter chegado ao fim, o advogado de bolso da moça apareceu anunciando que ela chegara e estaria entre eles em alguns minutos. Os jornalistas respiraram aliviados, afinal, eram duas horas de atraso, os salgadinhos (os que sobraram) já estavam frios e as piadinhas esgotadas...
De repente, entra a moça. Óculos escuros, tailler bem cortado, sapato de salto e bico fino, cabelo impecável, muito elegante. Os jornalistas que já não agüentavam mais tanto frufru, começaram logo as perguntas:
-- Mônica, qual foi o motivo dessa coletiva? Você teria alguma informação sobre o caso do Senador? Perguntou logo um.
Mas para decepção de uns e desespero de outros, o motivo da coletiva era nada mais, nada menos, que a divulgação das fotos que fez para a Playboy. Tudo bem, não deixa de ser notícia, e tem muito otário que vai dar uma força, comprando a revista.
"Inclusive", disse a moça, "O Zé Erinaldo, da banca do Congresso me disse que o pessoal está ansioso esperando a revista sair, ele acha que vende no mínimo uns noventa exemplares, já no primeiro dia". Enquanto falava, as imagens da “Mãe do Ano”, em poses nada maternais, eram exibidas num telão instalado ao lado da mesa. Uma jornalista imediatamente lembrou-se de sua viagem a São Luis do Maranhão, onde os açougues costumam expor as carnes penduradas na fachada, ao ar livre, prestigiadas por felizes moscas.. Sentiu que os salgadinhos queriam voltar, mas conseguiu contê-los.
-- Com o tempo você acaba acostumando - acalmou um colega mais escolado. E para finalizar com chave de ouro, a "teúda e manteúda" do Senador, diante da insistência de alguns jornalistas em fazer perguntas sobre escândalos, corrupção e lobistas, veio com a máxima:
-- Se pequei, pequei por amar demais...
Aí os salgadinhos no estômago da jornalista criaram vida própria.
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