Romance
Tânia Aparecida Neves Barth
17/06/2008
O romance é o estilo narrativo que mais se aproxima da linguagem cinematográfica, o que faz com que muitos produtores e diretores utilizem-no como base para seus roteiros ou o adaptem para o cinema. Alguns desses “casamentos” são bem sucedidos, como o caso do romance Perfume de Patrick Süskind. O romance conta a intrigante história de um garoto que se diferencia das demais pessoas pela sua falta de odor e pela aparente contradição de ter um apuradíssimo olfato que lhe permite sentir e identificar cheiros a grandes distâncias. Esta capacidade, que poderia ser uma bênção, transforma-se sua maldição, tornando-o obsessivo na busca do perfume perfeito.
O enredo deste romance apresenta recursos que adiantam a narrativa, ou seja, a cronologia é respeitada, os personagens falam diretamente e a ocorrência de ações é maior que o número de comentários do narrador. Quanto ao tempo, o romance apresenta-se no tempo físico, iniciando-se a história da personagem central com seu nascimento, em 17 de julho de 1738. A narração é ulterior, com poucas analepses, quando Jean-Baptiste tem recordações de fatos que ocorreram em sua infância.
O espaço físico da narrativa é a França, ambientado no século XVIII, dentro do contexto de hábitos e costumes da época e da organização da sociedade, numa reconstituição histórica. O enredo segue linearmente no tempo descrevendo os fatos da vida do protagonista, desde o seu nascimento até sua morte, já adulto.
O personagem principal pode ser classificado como esférico, pois o autor explora características psicológicas complexas na sua caracterização, tais como: obsessão pelo conhecimento e poder, a necessidade de superação e afirmação, permeada por um erotismo latente.
Quanto ao papel desempenhado no enredo, a personagem central, Jean-Baptiste Grenouville, pode ser considerada um anti-herói que, apesar de sua natureza monstruosa, passa algo de inquietante quando é manifestada sua tão própria e incorrupta pureza. Este personagem inspira no leitor sentimentos contraditórios e diversos como simpatia, comiseração, horror e até asco, confundindo a percepção de seu caráter. Sua amoralidade por vezes parece perversa, outras parece um grito de socorro para sua grande necessidade de aceitação na sociedade.
A relação personagem-narrador desenvolve-se no modelo “visão por trás”, ou seja, o narrador não participa da história. Ele sabe de todos os fatos e pensamentos dos personagens, como se contasse algo que já aconteceu e que ele conhece perfeitamente, porém, sem antecipar os fatos na narrativa. Desta forma, pode-se dizer que a perspectiva da narrativa de O Perfume é de focalização zero. O narrador descreve detalhadamente os lugares, sensações, pensamentos, e por vezes reproduz a voz de alguns personagens, fazendo-se presente, não como um personagem, mas com onisciência intrusa. O autor-narrador traça comentários sobre os personagens, sob o ponto de vista moral e ético, porém não com um tom de julgamento, mas de imparcialidade e de reprodução dos fatos e sentimentos.
O romance O Perfume causou grande impacto em 1985, por ocasião de seu lançamento, sendo traduzido para muitos idiomas. Recentemente sua adaptação para o cinema fez com que ele despertasse o interesse de novas gerações de leitores. Apesar do romance possuir uma ambientação histórica, sua linguagem é contemporânea e trata de sensações e sentimentos universais, dando um caráter atemporal à narrativa. A linguagem coloquial facilita o entendimento, atrai e convida o leitor a participar do universo de experimentações que o autor propõe.
Referências Bibliográficas:
SÜSKIND, Patrick. O Perfume. KOTHE, Flavio R. (Tradução). Rio de Janeiro: Record, 1985.
MESQUITA,Samira Nahib de. O enredo. São Paulo: Ática, 1987.
KOTHE, Flávio R. O Herói. São Paulo: Ática, 1987.
NUNES, Benedito. O Tempo na Narrativa. São Paulo: Ática, 1995.
REUTES, Ives. A análise da Narrativa. Trad. Mário Pontes. Rio de Janeiro: Difel, 2002.
DIMAS, Antonio. Espaço e Romance. São Paulo: Ática, 1994.
OLIVEIRA, Iara de. O Narrador. In.___: Os elementos constitutivos da narrativa – esquema básico. Pág. 6.
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