O Leitor Crítico
Tania A Neves Barth
A palavra tem o poder de mudar os rumos não só de uma sociedade, mas de toda a humanidade. Aquele que tem o domínio da palavra, como Adolf Hitler, por exemplo, pode convencer milhões e promover a barbárie, ou, como Ghandi, promover a paz e a igualdade. Segundo Ezequiel Theodoro da Silva (2002: p.24), “a escrita, como qualquer outro meio de comunicação numa sociedade dividida em classes, pode servir a propósitos de alienação ou de emancipação/libertação”. A leitura nas salas de aula, que há muito tem sido utilizada como instrumento de alienação, mais que de libertação, é extremamente importante no processo de desenvolvimento da capacidade crítica do aluno. A leitura crítica desvenda a possibilidade de transformação da realidade, mostrando ao aluno que existem, sim, contradições e injustiças, mas que a atitude de cada um pode mudar esse quadro. Estamos falando de cidadania, palavra que pode incomodar aqueles que buscam o poder através de falsas ideologias e do domínio da sociedade.
Através da prática da leitura crítica, o aluno passa a questionar a opinião do autor, comparando-a com outros autores, percebendo os diferentes pontos de vista e tecendo sua opinião, com conhecimento de causa. Desta forma, é importante trazer outros tipos de texto para a sala de aula, e não somente os encontrados nos livros didáticos. Com textos de diferentes autores falando sobre o mesmo assunto, pode-se promover debates e posicionamentos críticos, fazer ligações com outros textos, levar o aluno à produção textual onde seu posicionamento seja respeitado. A escola deve ser, portanto, o lugar onde se possa refletir, questionar, posicionar-se, agir e transformar. Silva afirma ainda que “pela leitura crítica o sujeito abala o mundo das certezas (principalmente as da classe dominante), elabora e dinamiza conflitos, organiza sínteses, enfim combate assiduamente qualquer tipo de conformismo, qualquer tipo de escravização às idéias do texto” (SILVA,1998, p.26). A sociedade globalizada tem um poder enorme e a leitura crítica tem seu lugar de destaque. A quantidade de informações disponíveis nos dias de hoje é imensa e sua leitura deve ser selecionada, sendo isto possível somente se houver o leitor crítico, pois o leitor como simples consumidor passivo de mensagens não pode mais existir.
O que normalmente acontecia, ou acontece nas salas de aula é a leitura como decodificação de sinais, um ato meramente mecânico, onde, através de questionários o aluno deve formular as respostas de interpretação dos textos. Desta forma, por vezes o aluno busca no texto apenas a resposta para as perguntas do questionário, sem nem sequer lê-lo integralmente.
Os interesses sociais das classes dominantes que se escondem nos textos didáticos comumente são ignorados tanto pelos professores quanto pelos alunos, o que alimenta a desigualdade e a injustiça social, alimentando a relação de conformismo de um povo que não consegue discernir sobre sua capacidade de mudança de tal situação. Deste modo, as classes populares encaram a leitura como algo obrigatório para a mudança de suas condições de vida, e não como uma forma de expressão, que pode mudar não só sua condição financeira, mas toda a estrutura social de seu país.
A formação do leitor crítico implica uma conscientização do professor para que se inicie nas escolas a formação do leitor crítico. Segundo Silva, há a “necessidade de uma visão mais coerente sobre o ato de ler por parte daqueles envolvidos com a educação do povo, daí a necessidade da formação de leitores que saibam trabalhar criticamente o material didático” (SILVA, 1988, p.10). Afirma ainda que “pela leitura o sujeito abala o mundo das certezas (principalmente as da classe dominante), elabora e dinamiza, organiza sínteses, enfim, combate assiduamente qualquer tipo de conformismo, qualquer tipo de escravização às idéias referidas pelos textos”. (SILVA, 1998, p.26). A situação real atual de violência, guerras, corrupção e abuso de poder não aparecem nos textos didáticos, que não condizem com a realidade do aluno. Toda aquela situação de otimismo e de sociedade perfeita que aparece nos textos didáticos, não funcionam na vida real, não dizem respeito ao dia-a-dia do aluno.
A língua portuguesa ensinada como é atualmente, torna-se um instrumento de alienação, deixando de ensinar os modos de uso da língua para ensinar simplesmente sobre a língua.
Florianópolis, 02/07/2008
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