Conto e Crônica
Tânia Aparecida Neves Barth
13/06/2008
Alguns estilos narrativos possuem características que podem se confundir. É o que acontece com o conto e a crônica. Segundo Cortázar (1997), o conto se move no plano do homem, onde a vida e a expressão escrita dessa vida travam uma batalha, sendo seu resultado o próprio conto. Os contos relatam fatos da vida de forma sintetizada, ou seja, uma de suas características é sua brevidade. Na França, esta brevidade chega a ser limitada a vinte páginas, sendo a partir daí considerado novela.
O conto relata um fato onde tempo e espaço são condensados e a densidade dos fatos busca fazer com que o leitor se sensibilize a ponto de concentrar-se na narrativa e abstrair-se de tudo à sua volta. Os fatos relatados no conto não têm a necessidade de serem verídicos, mas seu autor deve tratar um determinado tema com uma dose de tensão, despertando o interesse do leitor.
Já a crônica, embora também possua a brevidade como uma de suas características, exibe certa concretude na narrativa, registrando fatos circunstanciais. Os fatos narrados na crônica são cotidianos e muitas vezes triviais. Há, portanto, um comprometimento maior com a realidade, inclusive pela linguagem jornalística, utilizada comumente neste gênero. Como afirma Jorge de Sá (2001), referindo-se à carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, onde descrevia as terras brasileiras recém descobertas:
“A história da nossa literatura se inicia, pois, com a circunstância de um descobrimento oficialmente, a Literatura Brasileira nasceu da crônica”.
A diferença mais marcante nesses dois gêneros narrativos está na densidade que o conto apresenta, centrada num determinado momento da condição humana. A crônica, no entanto, não possui tal característica, já que o autor aproxima-se bastante da imagem de um repórter, que narra os fatos com certa superficialidade e imparcialidade. Não há, na crônica, o sentido de valores ou conflitos morais que podem ser notados nos contos.
Pode-se dizer que o público de um e de outro difere de forma clara. Enquanto o leitor do conto busca sua leitura na literatura, o de crônica a busca em jornais, onde são publicadas.
Observa-se, portanto, que a diferença fundamental entre os gêneros narrativos conto e crônica, apresenta-se na forma como o escritor trata o tema escolhido. Enquanto o escritor de conto aprofunda-se em seu personagem, utilizando linguagem literária para exprimir a densidade psicológica ou moral do personagem, o cronista não apresenta tal comprometimento, narrando os fatos com linguagem jornalística, ágil e imparcial.
Referências Bibliográficas:
CORTÁZAR, Júlio.Alguns aspectos do conto. In: Valise de cronópio. São Paulo: Perspectiva, 1997, pp.147-163..
SÁ, Jorge de. Crônica: uma definição. In: A Crônica. São Paulo: Ática, 2001, pp. 5-11.
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