BARTH, Tânia Aparecida Neves.
Capítulo da dissertação do
trabalho de conclusão de curso de Especialista em Gestão de Comunicação e
Marketing. Florianópolis, 2011.
Pode-se afirmar que a primeira experiência de tentativa de vendas “virtuais” foi o telemarketing, que surgiu na década de 1980 trazendo o conceito de desmaterialização da venda. Não era necessário que o comprador tivesse contato físico (loja) e havia a eliminação de um ou mais intermediários no processo compra-venda. Quando os call-center foram instalados por algumas empresas, passou-se a obter a infraestrutura para a produção de bancos de dados. Desta forma, aliando-se a filosofia de telemarketing, o sistema de banco de dados (call-center) e os recursos da telefonia e da internet, teve início o e-commerce (eletronic commerce), ou comércio eletrônico. Segundo Eduardo Vieira (2003), o ano de 1995 é considerado o “marco zero” da internet comercial, tanto nos Estados Unidos como no restante do mundo. Nesse ano, despontaram na internet a livraria virtual Amazon.com e o site de buscas Yahoo!. No Brasil, a primeira empresa a se destacar nas vendas virtuais foi a Booknet, lançada, em 1995, pelo economista carioca Jack London. O sucesso foi grande e, no sentido inverso das lojas virtuais, dois anos após seu lançamento no mercado eletrônico, foram inauguradas lojas físicas da livraria em quatro shoppings do Rio de Janeiro. Em 1999, a Booknet foi vendida ao site Submarino, na época com uma carteira de cinquenta mil clientes e com um grande investimento estrangeiro. O site “submarino.com” tornou-se a maior livraria virtual do país, mas também oferecia CDs e brinquedos. Embora, em 2000, o site tenha encerrado suas atividades na Argentina, Espanha e México, a “submarino.com.br” continuou a crescer no Brasil. (Fuoco, 2003).
As relações comerciais sofreram profunda mudança com a criação do e-commerce, resultando num novo tipo de consumidor, conforme demonstrado no capítulo anterior. A criatividade nesse modelo de marketing passou a ser fundamental, já que o internauta é abordado por uma infinidade de empresas ofertando seus produtos, bastando, para isso, que ele esteja conectado à internet, em qualquer local e a qualquer hora. No Brasil, inicialmente esse sistema de vendas enfrentou muitas adversidades, já que era, ainda, um campo desconhecido no mundo comercial e exigia uma logística de entrega muito diferenciada, a chamada pick,pack,delivery, que gerava custos até então não contabilizados nas vendas físicas. No entanto, em uma década, o e-commerce ganhou cada vez mais espaço e o número de consumidores, antes apreensivos com a nova forma de consumo, sem contato pessoal com o vendedor ou físico com o produto, passou a aumentar consideravelmente.
A adesão de grandes empresas, a pontualidade na entrega dos produtos e os sistemas seguros para pagamento, garantindo a devolução do valor pago, caso o vendedor não cumpra rigorosamente as condições acertadas na venda, fizeram com que o público consumidor via internet aumentasse. Várias ferramentas de comunicação e divulgação de produtos foram criadas, sendo as redes sociais as mais recentes. Inicialmente, os sites eram a ferramenta forte do mundo virtual, mas o leque abriu-se com a introdução de blogs, Orkut, Facebook, entre outras redes sociais, onde o consumidor tem voz ativa e os interesses específicos de cada público podem ser delimitados.
No território brasileiro, há algumas dificuldades a serem vencidas, pois ainda existe certa resistência por parte de empresários e funcionários com relação a essa nova modalidade de vendas. Aos poucos, as vendas virtuais deixam de ser consideradas “modismo” e passam a ser vistas como uma evolução e um importante suporte para as vendas físicas. Observe, na Tabela 1, a evolução das vendas efetuadas no comércio eletrônico brasileiro, de 2001 a 2010.
Tabela 1 – Evolução das vendas no comércio eletrônico brasileiro
Fonte: eBit - Compilação www.e-commerce.org.br. Não considera as vendas de automóveis,passagens aéreas e leilões on-line.
ANO FATURAMENTO Variação
2010(prev) R$ 13,60 bilhões 30%
2009 R$ 10,60 bilhões 33%
2008 R$ 8.20 bilhões 30%
2007 R$ 6.30 bilhões 43%
2006 R$ 4,40 bilhões 76%
2005 R$ 2.50 bilhões 43%
2004 R$ 1.75 bilhão 48%
2003 R$ 1.18 bilhão 39%
2002 R$ 0,85 bilhão 55%
2001 R$ 0,54 bilhão -
Num país com as dimensões do Brasil, a logística de entregas é uma questão a ser resolvida ou, no mínimo, bem administrada. A precariedade das estradas e a falta de investimentos em alternativas de transporte por parte do Estado são um grande problema para as empresas que dependem da perfeita integração de todos os setores que envolvem a logística de venda e entrega do produto. No entanto, o número de internautas cresce de forma acelerada no Brasil. Esse fato levou grandes empresas a investirem massivamente no e-commerce, o que poderia gerar uma concentração dos grandes varejistas no comércio eletrônico e prejudicar a economia, pois o monopólio dificulta a concorrência e desestimula a produção. Contrariando essas expectativas, a empresa de consultoria E-bit divulgou, em 2008, uma pesquisa que demonstra o crescimento da participação das pequenas empresas no mercado eletrônico brasileiro.
O comércio eletrônico no Brasil ainda está “engatinhando”, ou seja, os empreendedores da internet ainda estão buscando acertar e aprender com os erros. Há, no entanto, uma característica nesse tipo de empreendedorismo que o torna democrático, pois o investimento para se tornar um empresário é bastante baixo. A manutenção de um site e sua divulgação pode variar de R$150,00 a R$500,00 mensais; por outro lado, a manutenção de uma loja física varia de R$5.000,00 a R$15.000,00 por mês, já que é necessária a contratação de funcionários, pagamentos de água, luz, entre outras taxas. Pode-se dizer, portanto, que a internet possibilitou ao pequeno empreendedor brasileiro, que tinha dificuldades em manter um negócio físico de forma viável, encontrar-se em condição de igualdade com os grandes concorrentes e obter lucro com um mercado focado num determinado produto. Diante desse ambiente novo e bastante promissor, o mercado de trabalho também sofreu adaptações. O surgimento do e-commerce criou, no Brasil, novas oportunidades de trabalho bastante específicas, cujas habilidades devem ser voltadas às plataformas das novas tecnologias do processo de consumo, conforme os exemplos a seguir:
Exemplo 1:
(Anúncio 1 - Oportunidades para talentos na área de e-commerce – eCommerceOrg)
Se você conhece muito bem alguma das áreas abaixo e tem interesse em prestação de serviços e participação em projetos de consultoria, projetos editoriais, entre outros, envie um email com uma apresentação de suas habilidades, trabalhos realizados e experiência com o assunto.
• Blogs; Facebook; Orkut; Twitter; Campanhas de links patrocinados no Adwords;
• Compras coletivas;
• logistica aplicada ao e-commerce;
• Editoria de livros e revistas.
Exemplo 2:
(Anúncio 2- Vaga para Assistente de Marketing para E-commerce JR)
• Ótima redação
• Experiência com ferramenta de métricas web (Google Analytics)
• ADwords/Links Patrocinados
• Possuir Perfis nas redes sociais
Exemplo 3:
(Anúncio 3 - Vaga para Web Analytics JR)
• Conhecimento em internet (avançado);
• Uso constante da ferramenta do Google Analytics;
• Configuração de códigos de monitoramento de acordo com o site;
• Conhecimento de métricas do mercado de internet e e-commerce;
• Conhecimento sobre mercado de mídia digital;
Pode-se notar que, no novo cenário do mercado pela internet, as redes sociais deixaram de ser apenas “um local para encontrar amigos”. Segundo pesquisa divulgada pelo site Sophia Mind (2010), 63% das mulheres brasileiras consultam as opiniões postadas nas redes sociais antes de comprar um produto e 70% delas consideram que, se as opiniões forem favoráveis ao produto ou serviço desejado, as chances de comprarem são muito maiores. Desta forma, a participação e a experiência em redes sociais tornou-se uma das habilidades desejadas para o novo profissional do mercado eletrônico. É importante destacar que essa nova modalidade de comércio gerou um mito de que o mercado de trabalho seria afetado, causando desemprego. É certo que as inovações tecnológicas produziram modificações na sociedade, inclusive nas relações de trabalho. No entanto, o que tem ocorrido é uma mudança nas qualificações exigidas para preenchimento das vagas, ou seja, novas vagas de trabalho estão se abrindo, inclusive com maior valor salarial e, consequentemente, com maior exigência de conhecimento.
Nesse vasto e fértil campo de relacionamentos virtuais, tanto pessoais quanto comerciais, surgiu recentemente a modalidade de compras coletivas. Ela tornou-se uma febre e tem angariado milhares de adeptos em curto espaço de tempo. Com a proposta de oferecer preços atraentes aos clientes e prospecção ampla às empresas, essa modalidade tem chamado a atenção pela velocidade e abrangência de seu alcance em diversos países. O primeiro site de vendas coletivas, chamado Groupon, foi criado pelo americano Andrew Mason, de apenas vinte e nove anos e que nada entendia de programação de computadores. Mason criou, analisando o comportamento dos internautas, uma nova estratégia de marketing e vendas diretas. Ele observou que as pessoas que navegam na internet costumam buscar preços melhores, até mesmo pela facilidade de navegação e possibilidade de comparação de valores, além da grande e crescente participação em redes sociais. Essas características, aliadas àquelas descritas por Giglio (2005) e citadas no capítulo 1.1 deste trabalho, levaram Mason a criar um novo método de vendas onde, segundo ele, a intenção é que todos ganhem. As empresas que se tornam parceiras do site estão interessadas em divulgar suas marcas e, para tanto, devem oferecer um produto ou serviço a preços baixos. O site anuncia a oferta para sua rede de contatos, geralmente por um prazo de vinte e quatro horas e intermedeia a transação de compra e venda com pagamentos feitos através de cartão de crédito ou pelo sistema Pay Pal , com uma comissão de 50%. Há, ainda, a exigência de um número mínimo de compradores para que a oferta seja ativada. Caso contrário, ela é cancelada e o valor não é debitado do cartão de crédito do comprador. As redes sociais são muito importantes nesse sistema de vendas, já que são as maiores disseminadoras das ofertas anunciadas. Segundo o jornalista Marcos Todeschini (2010), em matéria divulgada na revista Época Negócios , atualmente o site Groupon atua em vinte e nove países e deve faturar U$1 bilhão em 2011. O sucesso do sistema de vendas coletivas pela internet chamou a atenção de um jovem brasileiro que trabalhava no Vale do Silício (EUA) e o encorajou a abandonar seu emprego e trazer a ideia para o Brasil. Júlio Vasconcelos uniu-se a Alex Tabor e os dois lançaram, em 2010, o primeiro site de vendas coletivas do Brasil: o Peixe Urbano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Escreva aqui seu comentário. Participe!