Tânia A Neves Barth, Lourdes C Moreira, Denise Zanon
1. O objetivo desta
pesquisa é identificar a existência, ou não, de uma linha crítica adotada na
revista Veja, no que se refere às críticas apresentadas na página “livros”.
2. O método utilizado
para a realização desta pesquisa foi a análise das tendências de estilo das
críticas, referentes a livros recém-lançados no mercado, apresentadas na página
“livros” da revista “Veja”, números 28, 29, 30, 31 e 32.
3. ANÁLISES:
3.1 Análise de
Tânia A Neves Barth - Revista Veja número 28 – p. 130
Livro: DESONRADA
Autor: Mukhtar Mai
Título da Crítica: O RESGATE DA HONRA
Autor: Ronaldo Soares
(O
livro conta o relato de uma paquistanesa, sobre sua dor de ser estuprada por
quatro homens diante de sua aldeia).
A
crítica de Ronaldo Soares apresenta elementos que remetem ao estilo de Crítica
Biográfica e Crítica Sociológica. Os elementos de Crítica Biográfica estão
presentes no texto de Ronaldo Soares, onde o crítico destaca fatos da vida de
Mukhatar, demonstrando que vida e obra da autora do livro estão intimamente
relacionados, pois a partir de acontecimentos trágicos ocorridos em sua vida,
Mukhatar desenvolveu o tema, numa atitude de exortação ou desabafo. Logo no
início da crítica, Ronaldo descreve o fato central do livro que, embora num
primeiro momento pareça uma descrição biográfica da autora feita pelo crítico,
trata-se de um trecho extraído do livro:
A
paquistanesa Mukhtar Mai apertou seu exemplar do “Corão” contra o peito quando
ouviu, na presença de mais de 100 homens, a sentença que o conselho de sua
aldeia acabara de lhe impor: um estupro coletivo. Integrante de uma casta
inferior, Mukhtar fora até lá apenas para pedir clemência para o irmão mais
jovem.
Em outro
trecho da crítica, Soares cita novamente dados da vida da autora, agora com
contexto informativo:
A
camponesa pobre e analfabeta, nascida Mukhtaran Bibi, virou uma ativista
conhecida mundo afora pelo codinome Mukhtar Mai, que significa “grande irmã
respeitada” em urdu, o idioma oficial de seu país. Seu livro, publicado no ano
passado, é o terceiro na lista dos mais vendidos na França. Nele, conta como se
deu essa transformação. Narra sua luta por justiça e relata barbaridades
cometidas contra mulheres em seu país.
Os elementos
de Crítica Sociológica são identificados na descrição que Soares faz das
condições sociais vividas pelas mulheres no Paquistão, que se tornaram o mote
do livro. Demonstra também a importância da obra como instrumento de reação a
tais condições, sendo o primeiro passo para o início de ações sociais que visam
mudar esse quadro. Tais elementos podem ser notados nos seguintes trechos do
texto de Ronaldo Soares:
Mais
que um desfecho de uma querela tribal, o livro narra como Mukhtar transformou
sua tragédia pessoal em uma boa causa: a defesa dos direitos das mulheres em
seu país. E com isso, tornou-se um símbolo da luta das mulheres no mundo
islâmico.
...
ela iniciou um movimento que contesta a condição humana feminina em seu país e
questiona hábitos ancestrais como o jirga, conselho tribal que a condenou ao
estupro.
Soares cita,
ainda, a crítica divulgada pelo New York Times:
... Para
o jornal The New York Times, ela é “A Rosa Parks do século XXI”, comparação
feita com a americana-símbolo do movimento dos direitos civis nos Estados
Unidos.
E continua:
Ainda
que movida pela revolta, Mukhtar apostou na educação como forma de mudar a
realidade de seu país.
3.2 Análise de Lourdes
C Moreira - Revista Veja número 29 – p. 118 e 119
Livro: O BAZAR
ATÔMICO
Autor: William Langewiesche
Título da Crítica: O APOCALIPSE DOS POBRES
Autor: Jerônimo Coelho
(È um
livro-reportagem, que faz um alerta para a proliferação de armas atômicas entre
países instáveis).
O
texto de Jerônimo Teixeira traz elementos presentes na crítica Historiográfica,
visto que procura explicar a obra pelas condições exteriores de sua criação sob
a perspectiva histórica, sociológica e psicológica. Apresenta referências
contextuais que evidenciam aspectos da ameaça nuclear, oriunda tanto de países
ricos como de países pobres.
O
fim da Guerra Fria, no início dos anos 90 parecia ter encerrado a ameaça do
apocalipse nuclear. Mas então os doidos da Al Qaeda derrubaram o World Trade
Center, em 2001, e o desmantelamento da União Soviética se transformou em favor
adicional de pânico. E se os terroristas colocarem as mãos no material nuclear
das antigas repúblicas soviéticas?
Há predomínio do contexto, pois a análise é fundamentada
nos aspectos que causariam o uso da energia atômica por países terroristas, e
faz um paralelo entre o ocorrido em Hiroshima em 45; caminha para os testes
nucleares realizados pelo Paquistão em 1998.
As primeiras páginas de O Bazar
Atômico centra-se nos efeitos da bomba que destruiu a cidade de Hiroshima, em
1945, e levou a que o Japão se colocasse de joelhos, diante dos Estados
Unidos.[...]
A
proliferação atômica em países pobres e instáveis é, essa sim, um risco
imediato. O Irã dos aiatolás está desenvolvendo seu programa de enriquecimento
de urânio, e só depois de muita pressão internacional a Coréia do Norte
desistiu neste ano de seu programa nuclear. [...] O verdadeiro centro
irradiador dessa nova corrida nuclear é o Paquistão, que fez seus primeiros
testes nucleares em 1998.
O crítico salienta também as questões psicológicas e
econômicas que afetam o planeta com a proliferação das armas atômicas e suas
consequências.
Os pesadelos de destruição global da Guerra Fria podem
estar distantes. Mas a convivência explosiva de Paquistão e Índia coloca em
cena o perigo dos apocalipses regionais. E, se quatro jatos de passageiros
foram capazes de sacudir todo o tênue equilíbrio geopolítico mundial, é de
imaginar que ruína um atentado nuclear causaria na já tão abalada psique do
planeta.
3.3 Análise de
Lourdes C Moreira - Revista Veja número
30 – p. 134 e 135
Livro: HARRY POTTER
E AS RELÍQUIAS DA MORTE
Autor: J. K.
Rowlling
Título da Crítica: AGORA ACABOU
Autor: Isabela Boscov
(Agora Acabou de Isabela Boscoy faz crítica à obra As Relíquias da Morte de J. K. Rowling)
A crítica de Isabela Boscoy com relação à referida obra é de
cunho Biográfico e Sociológico.
Traz elementos da crítica biográfica quando destaca a
autora em relação à obra, informando que é líder de vendas e ressalta a fortuna
conseguida através da sua escrita, apesar de sua narrativa ser considerada
banal. “A prosa de Rowling é banal e seus
personagens são unidimensionais e seu grande dom, como escritora, é o de
argumentista – assim que supera uma abertura um tanto lenta”. Em outro
momento também afirma, “ Fãs comemoram o
lançamento, no último sábado: Rowling quebrou todos os recordes que pertenciam
a Rowling.[ ...] 1 bilhão de dólares é em quanto se estima a fortuna pessoal de
J. K. Rowling” Paralela à crítica biográfica percebe-se também elementos da
crítica sociológica quando apresenta o conhecimento do contexto (prática da
leitura) em confronto com o romance (os atrativos desta leitura), isto é, a
autora de Harry Potter traz para sua obra temas que interessam ao leitor jovem,
que é o maior público de sua obra. “Com
Harry Potter e as Relíquias da Morte, encerra-se um fenômeno editorial. E
renova-se a pergunta: ele criou novos leitores?” Ainda afirma, “Eis, então, aquela que sempre foi a maior
qualidade de Rowling: a confiança de que o público infanto-juvenil está à
altura de temas como traição, morte, abandono, lealdade e responsabilidade.”
E ao final da crítica, Boscoy, faz uma fusão destas duas
críticas destacando tanto a autora como o fenômeno do interesse dos jovens pela
obra.
Os 325 milhões de exemplares
vendidos por Rowling até as Relíquias da Morte sugerem que algo de positivo,
sim, há de sobrar desse fenômeno. Nem que seja apenas a constatação de que não
pode ser responsabilidade de uma única escritora resolver um problema – o
desinteresse de toda uma geração pela palavra escrita- para a qual pais e
professores não conseguem encontrar solução adequada.
3.4 Análise de
Denise Zanon - Revista Veja número 30
Livro: A EVOLUÇÃO DAS COISAS ÚTEIS
Autor: Henry Petroski
Título da Crítica: MIUDEZAS GENIAIS
Autor: Jerônimo Teixeira
O crítico Jerônimo Teixeira apresenta uma mescla de crítica
Historiográfica e Sociológica. Historiográfica quando analisa a obra a partir
do aspecto da evolução histórica que os objetos comuns sofreram no decorrer dos
séculos. Afirma, “Ao reconstruir a
evolução histórica desses apetrechos simples o autor ilumina os complicados
caminhos da inovação”.
Sociológica quando associa os objetos às necessidades do
homem e à insatisfação desse homem dentro do seu contexto e com os objetos dos
quais faz uso, o que provoca a discussão da própria sociedade.
Petroski não aceita o clichê segundo o qual a necessidade é
a mãe da invenção. O homem, pondera, tem necessidade de água, mas não de cubos
de gelo ou ar condicionado. “O luxo é a mãe da invenção”, diz o autor.
O texto é um pretexto para a discussão da sociedade e seus
costumes, o homem explicando as mudanças e a criticidade. Petroski ensina que o
inventor é, antes de tudo, um crítico. É a partir da percepção de defeitos nas
coisas existentes que ele chega a um design inovador. Afirma [...] “Este é um
processo inesgotável, pela razão simples de que não existe invenção humana que
não comporte algum defeito. E foi essa insatisfação permanente que produziu
todos os modernos luxos eletrônicos.”
Nas críticas cujo autor é Jerônimo Teixeira percebe-se uma
tendência para as críticas Historiográficas e Sociológicas. Não há por parte
dele exaltação ao autor, mas sim ao contexto histórico e às pertinências
sociais.
3.5 Análise de
Tânia A Neves Barth - Revista Veja número 31 – p. 136 e 137
Livro: A CIDADE DO
SOL
Autor: Khaled Hosseini
Título da Crítica: O SIDNEY SHELDON AFEGÃO
Autor: Jerônimo Teixeira
(O
livro conta a história, passada em Cabul, sobre duas mulheres casadas com um
homem bruto que as espancava e as obrigava a usar a burca, antes mesmo que o
regime Talibã o tornasse obrigatório)
Logo no
início de sua crítica ao livro “Cidade do Sol”, Jerônimo Teixeira demonstra sua
forte tendência à Crítica Sociológica:
...em Cabul, durante o
regime fundamentalista, do Talibã – cuja idiotia ideológica e religiosa proibia
comezinhas como televisão, música e pipas - , até mesmo assistir o filme
Titanic no videocassete de casa era um perigoso ato de transgressão.
... A cidade do Sol é,
ao contrário, uma espécie de Sidney Sheldon islâmico: um romance sobre mulheres
sofredoras, amaldiçoadas pela sorte e humilhadas por homens maus, mas que no
fim conseguem (ou, pelo menos, uma delas consegue) dar a volta por cima.
É importante ressaltar que o
tema do livro possui forte cunho sociológico, pois conta a história de duas
mulheres afegãs, esposas de um homem violento e radical, que em nome do
fanatismo religioso comete atrocidades com as mulheres. No entanto, as
características da Crítica Historiográfica se fazem presentes em vários
momentos do texto de Jerônimo Teixeira, tal como:
Hosseini oferece um
retrato palpável da vida no Afeganistão ao longo das últimas quatro décadas –
um conturbado período que inclui a invasão soviética, guerras civis, o regime
talibã e a ocupação americana. Despertada pelos eventos de 11 de setembro de
2001, a curiosidade ocidental pela
realidade dos países islâmicos responde por parte do sucesso de Hosseini.
- Relatório da pesquisa
A revista Veja é um periódico publicado
semanalmente, que possui as seguintes características, referentes ao
público-alvo:
-
Faixa social: A/B e C
-
Escolaridade: Médio/Superior
-
Homens e mulheres
-
Profissionais qualificados/Formadores de opinião
-
Ativos no mercado de consumo e entretenimento
Em relação ao tema proposto, as
críticas referentes aos livros recém-lançados no mercado são publicadas por
autores diversos, o que elimina a uniformidade de estilo dos textos. A revista
Veja tem proposta de entretenimento e informação ao público em geral, além de
ser um veículo de mídia com interesses mercadológicos. Portanto, de modo geral,
a revista tem uma tendência para destacar elementos do contexto histórico e
social das obras analisadas, inserindo-se as críticas Historiográfica e
Sociológica.
Das cinco revistas analisadas, três
críticas são de autoria de Jerônimo Teixeira (A evolução das coisas úteis de
Henry Petroski; A cidade do sol de Khaled Hosseini e O bazar atômico de William
Lange Wiesche). Esse crítico ressalta elementos nas obras que induzem a
discussão da sociedade na qual a narrativa e os personagens
estão inseridos, trazendo paralelamente informações históricas desse contexto
social, destacando também elementos da Crítica Historiográfica.
Além de enfatizar a sociedade, o crítico estabelece
uma relação entre sociedade e literatura, pois, é necessário fazer com que o
leitor tenha interesse pela obra, não esquecendo que a revista, além de
informar, tem uma finalidade mercadológica.
Percebe-se também um olhar para o estudo
cultural, pois essas obras apresentam os diferentes aspectos da cultura em que
a temática está inserida, com um olhar voltado para a estrutura social e o contexto
histórico.