Firenze é uma cidade muito, muito
especial. Digo que aqui é minha segunda casa. A primeira fica em Florianópolis.
Fico um tanto cá, um tanto lá. Sou uma pessoa realmente privilegiada, não? O
“centro stòrico” de Firenze é uma constante festa, com muita gente bonita e elegante
circulando o tempo todo, um (bom) músico em cada esquina e lojas simplesmente
irresistíveis. Além disso tudo, é o berço da arte e da cultura italiana. Se
você aprecia museus de tirar o fôlego, bibliotecas incríveis e concertos
maravilhosos, aqui é o paraíso. É simplesmente impossível encontrar um lugar
feio em Firenze. Pode-se entender por que esta cidade é o cenário perfeito para
produções de peso, como o videoclipe “Turn Up the Radio” da Madonna (2012) -
que pude acompanhar, pois já morava aqui na época -, entre tantas outras.
Neste ano, acompanhei o lançamento do
filme “Inferno”, baseado no livro de Dan Brown e rodado em Firenze, Veneza e
uma pequena parte em Stambul. O lançamento mundial foi aqui mesmo, em Firenze,
no dia 8 deste mês, com a presença dos protagonistas, do diretor Ron Howard e
do próprio Dan Brown. Foram quatro dias de festas “vip”, frisson de fãs e
projeção do trailer sobre o famoso e lindo rio Arno, em frente à Ponte Vechio.
Não assisti à segunda produção, baseada
no livro de Dan Brown, Anjos e Demônios, embora tivesse gostado de Código Da
Vinci. Não acredito em séries no cinema. No entanto, envolvida pelo clamor do
marketing que dominou Firenze nos últimos dias, resolvi gastar meus “ricos
eurinhos” para conferir se o filme fazia jus. Aqui vão minhas impressões:
“Inferno” é mais um filme comercial. Ponto. Cenários fantásticos, ótimos atores
e roteiro que chega a ser infantil. Fórmula pronta e repetitiva, sem a mais
pálida sombra de criatividade e verossimilhança. Para tentar compensar essa
superficialidade, o filme é cheio de cenas surreais e muita ação, a ponto de
ficar cansativo num determinado momento. Tom Hanks faz o que pode, mas, a
despeito de seu inegável talento, desta vez o superinteligente e esperto
professor Robert Langdon não desenvolve. Parece desgastado e patina numa
relação estranha com a também estranha personagem de Felicity Jones. Esta
parece totalmente sem utilidade na estória, não convence e não diz a que veio.
Sua função fica clara somente no final do filme, e desaponta. Aliás, os outros
três personagens centrais (interpretados por Irrfan Khan, Omar Sy e Sidse
Knudsen) também são superficiais e decorativos. Parecem ter caído de paraquedas
numa estória absurda e mal contada. A referência à obra de Dante Alighieri –
Inferno, que inclusive dá nome ao filme, é outro ponto débil e parece ser
apenas um artifício para catapultar o roteiro pífio a um nível um pouco mais
elevado. O filme vale, como eu disse antes, apenas pelos cenários fantásticos.
Os personagens nos levam ao interior de museus onde raramente podemos ter
acesso, tanto de Firenze quanto de Veneza, ou seja, é um festival para os
olhos. Fora isso, confesso que saí do cinema com a sensação de “Ah, então tá!”.
Nada mais.
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