1. A
IMPORTÂNCIA DA AQUISIÇÃO DE IDIOMA ESTRANGEIRO
A procura por cursos de língua
estrangeira tem crescido em todos os países do mundo. Esse fenômeno é causado
por alguns motivos ligados ao desenvolvimento econômico dos países em
desenvolvimento, à globalização e, por outro lado, à crise econômica que tem
atingido os países mais desenvolvidos. Estudar inglês continua sendo
imperativo, é o mínimo que se exige no mercado de trabalho especializado, no
entanto, o domínio de outros idiomas passou a ser requisitado e pode ser
decisivo no momento da contratação. Com as mudanças ocorridas no cenário da
economia mundial, os idiomas falados em países emergentes passaram a ser
considerados relevantes, como o Português e o Mandarim, por exemplo. No Brasil,
o grande número de empresas multinacionais alemãs torna interessante que também
se adquira conhecimento do idioma daquele país.
2. PERFIL
DO ATUAL ESTUDANTE DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
Até o início do século XX, o
domínio de uma língua estrangeira – em geral o Inglês – era considerado um luxo
exclusivo das classes privilegiadas. No entanto, com o advento da globalização
e o acesso à internet as classes menos favorecidas passaram a ter mais acesso
ao contato com outras culturas. Transformações no cenário político e econômico
mundial provocaram uma mudança no que diz respeito às exigências do mercado de
trabalho. Desta forma, o atual estudante de línguas estrangeiras possui
objetivos bem claros no que diz respeito à aquisição de outros idiomas. Quando
ocorre a crise econômica, como acontece atualmente na Europa e Estados Unidos,
os jovens, normalmente aqueles recém-formados, consideram a possibilidade de
buscar trabalho em países emergentes, onde há grande oferta de vagas para
profissionais qualificados e não há esse tipo de mão de obra disponível em número
suficiente para atender à demanda. Ocorre ainda que atualmente há mais
facilidade de intercâmbio de estudantes, principalmente nos cursos de
pós-graduação, o que seria uma porta de entrada para o mercado de trabalho em
outro país. No entanto, a competição é cada vez maior, assim como as exigências
em relação às competências e à qualificação profissional. Não basta que o
candidato domine as regras gramaticais do idioma, é importante que ele tenha
conhecimentos sobre os aspectos culturais, sociais e geográficos do país no
qual pretende trabalhar ou estudar para que seja possível uma inserção e
interação mais rápida do profissional ou do estudante. Outra característica
marcante é que o estudante atual de idiomas tem procurado estudar mais de um
idioma simultaneamente, devido à necessidade de economizar tempo na busca pela
afirmação profissional.
3. AS
EXIGÊNCIAS COMUNICATIVAS DO ALUNO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA
Conforme demonstrado através da
pesquisa realizada com 50 estudantes de língua estrangeira na Universitá degli
Studi di Firenze, Departamento de Linguística; com alunos do Centro di Cultura
per Stragnieri (Firenze) e com meus alunos de aulas privadas, a motivação para
a busca de aprendizado de um idioma LE tem sido relacionada à busca de trabalho
em países com maior oferta de emprego. Desta forma, muitos estudantes têm como
objetivo a mudança para outros países e, portanto, a inserção na sua cultura,
situação bastante diversa do perfil geral do estudante de anos atrás, que
pretendia tornar-se professor de LE em seu próprio país ou, ainda, exercer a
profissão de tradutor. O objetivo de aprender uma língua estrangeira, então,
não era vinculado à emigração.
Considerando essa nova situação
mundial, a pesquisa efetuada propôs cinco questões relacionadas às exigências
comunicativas dos atuais estudantes de língua estrangeira, apresentando opções
referentes às suas prioridades no aprendizado, o nível de dificuldade considerado
em relação às competências (falar, ler, escrever), opiniões sobre a eficiência
de materiais didáticos normalmente utilizados em sala de aula, o nível de
interesse em relação aos diferentes tipos de conteúdos textuais e às dinâmicas
utilizadas em aula. A pesquisa demonstrou que a prioridade dos estudantes em
relação ao idioma LE é a conversação, visto que possibilita a comunicação
imediata na língua estrangeira. O conhecimento sobre a cultura relacionada ao
país falante do idioma estudado aparece em segundo lugar, o que demonstra que
esse aspecto é considerado importante para a inserção do estudante nos hábitos,
costumes e modo de vida dos falantes do idioma estrangeiro. O conhecimento
gramatical aparece em terceiro lugar, mas com nível de interesse muito próximo
à aquisição da cultura. No que se refere ao nível de dificuldade no
aprendizado, os estudantes afirmam que consideram mais difícil aprender a falar
o idioma LE, ou seja, a aquisição de léxico e a correta forma de expressar as
palavras nas diferentes situações que se apresentam, pois uma mesma palavra
pode ter vários significados e não ser adequada a uma determinada situação ou
região; em segundo lugar no nível de dificuldade de aprendizado está a escrita e
em terceiro, considerada menos difícil, a leitura.
4. A
UTILIZAÇÃO DE TEXTO PARA O ENSINO DE LE.
Há, nos livros didáticos de
língua estrangeira, uma deficiência no que diz respeito à qualidade dos textos
apresentados, levando o professor a procurar material em jornais, revistas ou
internet, de forma a elaborar um material de apoio na utilização de textos para
leitura em sala de aula. Alguns aspectos da seleção desse material são
importantes e nos levam à reflexão, visto que há certa dificuldade, diante da
imensa variedade que se apresenta, em determinar os tipos, os gêneros textuais
e, principalmente, como utilizá-los de forma produtiva no ensino de LE. A ideia
é evitar aquilo que Geraldi (1997) chama de “simulacro”, ou seja, a leitura do
texto apenas com o objetivo de responder às questões formuladas que conduzem,
muitas vezes, a uma interpretação induzida.
4.1 Em relação aos tipos
textuais, a escolha dos textos pode ser motivada pela sua utilização na
abordagem linguística, como por exemplo:
a) Texto
descritivo: utilização de verbos que indiquem estado, e não ação; utilização de
verbos nos tempos indicativo presente e imperfeito; formação de plural e
concordância entre substantivo e adjetivo.
b) Texto
narrativo: utilização dos verbos nos modos indicativo e subjuntivo, tempos
presente, passado e futuro; uso dos verbos no condicional e imperfeito,
utilização dos verbos que representam ação; utilização de diferentes pessoas do
discurso (primeira ou terceira); vozes do discurso.
c) Texto
expositivo: formulação de frases na voz passiva, como estratégia para torná-la
impessoal; expressão objetiva de ideias com utilização de adjetivos não
valorativos; aquisição de vocabulário especializado; utilização de verbos sem
valor temporal.
4.2 Em relação aos gêneros
textuais, há a possibilidade de se trabalhar a comunicação em diversas
situações sociais, proporcionando ao estudante uma compreensão maior sobre as
formas de agir, de viver e de se relacionar, no que diz respeito à cultura e à
história do país de origem da LE.
Pode-se desenvolver a capacidade comunicativa de forma funcional,
subordinando as regras gramaticais à prática quotidiana. Alguns exemplos de
utilização dos gêneros textuais para o desenvolvimento da capacidade
comunicativa do aluno LE:
a) Carta
do Leitor: são espaços destinados aos leitores de jornais e revistas no Brasil,
no qual ele pode expressar sua opinião sobre matérias jornalísticas publicadas
em edições anteriores. Esse gênero textual pode ser utilizado para análise de
formas de expressão e de vocabulários utilizados pelos leitores, inclusive
fazendo-se um paralelo com a linguagem jornalística da matéria em questão.
Presta-se, também, a levantar questões atuais que são expostas nos conteúdos
das matérias.
b) Publicidade:
uma imagem publicitária, sem texto escrito, pode ser bastante interessante como
material didático. Além da interpretação da mensagem pretendida pela
publicidade, com discussão sobre sua eficiência ou não, pode-se propor o
exercício de descrição da imagem.
c) Boletos
de água, luz, telefone, aquecimento: além da oportunidade de se trabalhar as
unidades de medida, valores de serviços praticados e taxas de impostos,
podem-se levantar questões como o custo de vida e a preservação do
meio-ambiente, por exemplo.
d) Bilhetes
de cinema, metro, teatro: esse tipo de material pode ser utilizado para a
produção de resumo de filmes ou peças de teatro, bem como elaborar indicações
de “como chegar”, simulando encontros marcados e utilizando mapas da cidade.
e) Receitas
gastronômicas: ótimo material para tratar do uso do imperativo e para levantar
a questão da cultura gastronômica, aquisição de léxico relacionado a alimentos
e produtos vendidos em supermercados etc.
f) Campanhas
educativas: leitura de imagens de outdoors
de campanha educativa no trânsito, por exemplo. Material interessante para
exercitar a forma de comunicação e de educação dirigida à sociedade, além da
possibilidade de se discutir questões sociais referentes ao país de origem da
LE.
Existem, ainda, os textos
utilizados no mundo virtual e eletrônico, como e.mail, redes sociais e SMS que
têm sido cada vez mais incorporados como material didático em sala de aula,
pois certamente fazem parte do quotidiano nos mais diversos países do mundo e
possuem uma forma comunicativa específica.
Com relação a essas novas
modalidades comunicativas, é importante ressaltar que, embora o e.mail tenha
substituído a carta em diversas situações, ela não deixou de existir. Desta
forma, é importante que o docente trace um paralelo entre esses dois formatos
de plataforma, bem como as diferentes formas de expressão que diferenciam uma
comunicação na rede virtual e um relatório, um comunicado ou uma petição. Mais
ainda, é importante para aqueles estudantes de níveis mais avançados e voltados
ao estudo de LE para negócios, a prática de exercícios sobre as diferentes
linguagens virtuais: corporativas e pessoais.
A aquisição de uma língua
estrangeira, como se pode verificar, pressupõe atualmente, além do aprendizado
das regras gramaticais, a aquisição de conhecimentos do sistema de valores e
convenções que constituem uma sociedade, bem como sua organização social e
política. Desta forma, o estudante pretende compreender o comportamento da
sociedade do país de origem da LE, utilizando a linguagem para interagir em um
contexto cultural diverso no qual pretende se inserir.
Bibliografia:
BAKHTIN, Mikhail. Estética da
Criação Verbal. São Paulo: Martins
Fontes, 1992.
CEREJA, William Roberto e
MAGALHÃES, Thereza Cochar. Texto e interação: uma proposta de produção textual
a partir de gêneros e projetos. São Paulo: Atual. 2005.
GERALDI, João Wanderley. Prática
da Leitura na
Escola. In:
GERALDI, J. W. (org.) O Texto na Sala de Aula. São Paulo: Ática, 1997, pp. 88-99.
MARASCHIN, Cleci e AXT,
Margarete. Acomplamento Tecnológico e Cognição. In: VIGNERON, Jacques e
OLIVEIRA, Vera Barros de (org). Sala de aula e Tecnologias. São Bernardo do
Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2005. pp. 39-51.
MORAIS, José. O QUE É LEITURA? In: A ARTE DE LER. São Paulo, UNESP,
1996, p. 110-114.
SARMENTO, Leila Lauar e TUFANO, Douglas. Português: literatura, gramática, produção de texto. São Paulo: Moderna. 2004.
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